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Paraisópolis que a Globo não mostra

Paraisópolis que a Globo não mostra

O último final de semana foi de intensidade na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo. A comunidade sediou a primeira edição nacional do Startup Weekend To Improve Lives, que tem modelo internacional desenvolvido pela TechStars e BID com o objetivo de fomentar o empreendedorismo social de startups para melhorar vidas.

No Brasil o evento foi realizado pela TechStars em parceria com o Google, BID e a CUFA SP (Central Única de Favelas). Foram 54 horas buscando soluções para melhorar a vida das pessoas na comunidade e fora dela.

As primeiras etapas do evento são dedicadas ao surgimento de ideias de negócios de impacto social, seguido da votação das melhores e formação dos times com base na relação das pessoas com essas soluções. Na fase de validação das ideias os participantes foram a campo conhecer de perto a realidade da comunidade, assim como as reais necessidades das pessoas que moram ali. Os grupos foram divididos de acordo com a área em que pensavam em atuar, alguns foram conhecer o lado esportivo, outros as ações sociais e culturais, e o meu grupo foi conhecer o comércio.

Os primeiros passos da caminhada já justificam a escolha de Paraisópolis como sede da primeira edição desse evento. Em Paraisópolis as pessoas abrem mão da própria garagem para abrir seu negócio ou alugar o espaço para outros empreendedores. Nas ruas do comércio se reúnem cerca de 8 mil empreendedores e se esbanja alegria e música.

Nos muros da comunidade é comum encontrar a frase “I heart Paraisópolis”, que deu o nome à novela da Globo que acabou na última sexta-feira. Perguntei à um amigo da comunidade se esses muros tinham alguma relação com a novela e ele me respondeu que não, que as pessoas realmente amam a favela e manifestam esse amor de diversas formas, seja em poema, rap ou declarações nos muros. Acho difícil alguém sair de lá depois dessas 54 horas sem amar.

Os empreendedores do SW Paraisópolis foram recebidos com alegria, carinho e muito respeito pela comunidade que ajudou a validar e lapidar as ideias, afinal era por elas que estávamos trabalhando. Voltamos para a Etec com ainda mais brilho nos olhos, motivação e amor no coração. Era comum ouvir pessoas comentando entre elas sobre como era incrível esse Startup Weekend.


Participantes são recebidos pelo Berbela, artista plástico da comunidade

Dizem que empreendedores tem que dar enfase à Razão, deixar de lado a emoção. Nessa edição Startup Weekend isso caiu por terra. A intensidade de sensações se misturavam em tudo o que um empreededor precisa para viver: um motivo. Acredito muito que a paixão move o mundo e abre espaço para o amor, nesse caso ela moveu organizadores, apoiadores, mentores, jurados, patrocinadores e participantes que se encontravam com um único propósito, e o maior de todos os propósitos possíveis: transformar o mundo!

Conhecemos o Edinho, MC EDS, que além de homenagear o evento com um hap sensacional (que todo mundo saiu cantando, aliás), trabalha levando oportunidades de desenvolvimento ao comércio local, vencendo a falta de informação, e abraçando a oportunidade de se dedicar para o desenvolvimento da comunidade, ao lado de sua esposa Claudia, que tornou possível que o evento acontecesse e fez com que nossa recepção fosse tão carinhosa por lá. Nos divertimos e inspiramos com Ed Feliz (“Feliz até no nome”, como ele mesmo se apresenta). A equipe de Ed criou um protótipo para solucionar a circulação do ar nas “piores vielas do mundo”, com o Ecoar.

São várias as histórias compartilhadas ali. Tivemos uma médica que participou para incentivar a participação de um jovem tímido e que acabou vivendo uma experiência que se eternizou ainda mais no momento em que foi anunciado que seu grupo ficou em segundo lugar com o aplicativo Vai, uma solução para evitar que pessoas se percam, sejam crianças ou idosos que sofrem do mal de Alzheimer.


Equipe Vai, segunda colocada no SW Paraisópolis, ao lado dos jurados Fernando Goes e Alejandra Gutierrez.

Julia veio do Rio de Janeiro de última hora para participar e junto com sua equipe criou a Primavera, uma rede de apoio a mulheres com o objetivo de denunciar a violência doméstica contra elas, um projeto que emocionou todas as pessoas que estavam presentes, especialmente por saber que um dos integrantes do grupo teve caso de violência doméstica na família. Muito bem estruturado e criativo, o Primavera levou o primeiro lugar do SW Paraisópolis.


Equipe Primavera, primeira colocada no SW Paraisópolis ao lado dos organizadores e o jurado Felipe Alves.

Foram mais de 80 histórias vividas simultaneamente ali e que mostraram que existe muito mais por trás do empreendedorismo social. Antes do Improve Lives eu via o Startup Weekend como uma oportunidade de criar negócios, depois de vivenciar pessoas do Brasil e do mundo reunidas em Paraisópolis eu notei que trata-se de muito mais do que isso. O Startup Weekend To Improve Lives São Paulo | Paraisópolis, deixou de ser sobre empreendedorismo nas primeiras horas, que foi quando pudemos notar que estávamos ali por algo bem maior. O SW Paraisópolis tratou-se de gente feliz e motivada por amor à oportunidade de mudar a vida da nossa gente.

“Esse final de semana eu troquei os “looks do dia” pela camiseta branca, esvaziei o coração dos pré conceitos e me permiti completa-lo com tudo o que Paraisópolis pudesse me oferecer. Fiz amigos, conheci histórias, me emocionei com os projetos que vi nascer de ideias dispersas e se tornarem startups validadas e com muito potencial. Chorei escondido com o amor dos nossos empreendedores às causas que buscaram resolver, chorei por ver quanta gente incrível passou esse final de semana trabalhando naquele sonho de “transformar o mundo”. De fato, “esse Startup Weekend foi muito foda”, e outras coisas que ouvi pessoas dizerem com brilho nos olhos. O que vc fez no fds? Eu cresci!” 

(publicado originalmente no blog helopalacio.com)