Imaginemos que num passado não tão longínquo, havia frasistas. Sim, era o sujeito que criava frases de efeito, impactantes, com duplo sentido ou que serviam de bordão. Jânio Quadros, por exemplo, criou o “fi-lo porque qui-lo”. Na boca de qualquer um, o “quilo” – tudo junto – era só a medida padrão do peso. Com Jânio, virou o peso da licença poética na criação do lingüista político. 

Ou uma frase que me ocorreu agora, fazendo uma corruptela de outras duas: “A Constituição Cidadã’ (Ulisses Guimarães) não mudou em nada a ‘pátria de chuteiras (Nelson Rodrigues)”. Criar frases era atributo de políticos eloqüentes, grandes advogados, oradores, debatedores, literatos, acadêmicos que apelavam para a retórica. 

Sem os tais frasistas – porque criar frase demanda tempo e certa inteligência, nem tanto o domínio da língua –, hoje ainda há o gerundismo do telemarketing: “vamos estar fazendo’ o recall da sua gramática” (meu corretor diz que está errado). Mas, de uns tempos para cá prevalecem dois tipos curiosos e imperialistas: “por conta” e “de boa”. Falava-se que se “estava numa boa”. Comendo pela preguiça ficou “na boa”. 

Está na boa quem trabalha pouco e ganha muito – isso deve ser em Brasília. E até por isso mesmo, “em virtude” ou por causa da não-contratação de professores de português “os alunos estão de boa”. Eu mesmo “estava numa boa, na vida” … até que fiquei por conta da imposição dessas expressões. 

Pois bem, como dizia a música, “por causa de você…”, estou aqui escrevendo. Mas alguém está lendo por conta de não sei o quê. É assim: não consigo fazer uma frase mesmo estando “de boa”. (O corretor está mudo, insípido, não gritou em linhas vermelhas ou verdes). Em todo caso, não encontro uma liga com sentido aparente para expressar o quanto alguém possa estar de boa. 

Também fico “por conta” em saber que não posso mais escrever “por causa” de alguma causa, alheia à minha vontade, ou por causa de alguma coisa estranha à minha razão. Neste tempo, devo ter ficado bem mais chato; mas, se o legal é falar o que o não tem nexo, vou ficar chato escrevendo, calado, por conta de não querer atrapalhar quem esteja de boa. 

Haja falta de sono. Por isso, não aja com sono. Para não ser prejudicado. Prefira o para, ao “pra”. Pelo menos para escrever. Tem mais estilo. O texto com frases curtas e sem adjetivos é o objetivo, como dizia Paulo Francis.