Faz 20 anos (ou mais) que não há greve dos servidores públicos municipais, em Marília-SP. O mesmo tempo, mais ou menos, que esta praça pública, na Rua Independência, não é limpa pelo serviço público de capinação. 


Podemos ver a foto graças ao flash do celular, o que também indica o breu do lugar

Não é preciso ser gênio para saber que o trabalho dos servidores públicos municipais é essencial para a cidade. Retirando o lixo acumulado – a fim de evitar a manjedoura da dengue – temos um exemplo claro. No entanto, os servidores estão em greve porque o Poder Público não aceita pagar o gatilho prometido no ano passado e, para piorar a vida dos trabalhadores, concedeu aumento de 4,5 (quatro e meio) por cento. Índice que não repõe nem mesmo a inflação do último ano.

Não tenho aqui uma foto para contrapor o desleixo, contudo, é certeza numérica (2+2 = 4) que outras regiões abastecidas de gente importante têm tratamento bem diferente. Em outro momento, trarei fotos desses lugares protegidos pelos privilégios públicos.

Uma das empresas de transporte público também ameaça entrar em greve, por falta de pagamento. E o que as duas coisas têm em comum? Para mim, ilustram a precariedade (por vezes inexistência) do Poder Público.

Ao privilegiar e atender com esmero determinados moradores ou setores da sociedade civil, a Prefeitura abandona sua condição de Poder Público. Ou seja, deixar de atender ao público (ao povo) para apaniguar apenas os consorciados do poder. O fato é que todos devem ser atendidos do mesmo modo. Ricos e pobres, no centro e na periferia, nos bairros e nos condomínios de segurança máxima são desiguais na condição econômica, mas não podem ser adulterados na natureza jurídica.

O que temos, então, é a expressão do poder local. No passado conservador do Estado de São Paulo, destaca-se como o último a abolir o trabalho escravo. O passado do coronelismo resultou no extermínio dos índios Coroados. No presente, opera-se a dinastia: em linha sucessória. O poder político serve e se abastece de garantias para que os privilégios (leis privadas) locais estejam assegurados. 

O poder local, portanto, distingue-se do Poder Público de verdade ao tratar alguns como amigos e outros como inimigos. Aos amigos do poder e do capital, o próprio Poder Público; aos inimigos do estafe político, o rigor da lei ou a desídia do poder local.

Particularmente, não tenho do que me queixar, pois minha casa foi certificada contra o vírus da dengue (tem um selo no portão), passa diariamente uma viatura da PM na avenida e ainda consegui uma placa de estacionamento prioritário (para deficientes físicos). Ou seja, penso que o poder me atendeu (e atende) satisfatoriamente. O problema, no entanto, é que não escrevo só para mim. 

Como no exemplo da praça, há muitos cidadãos e cidadãs que fazem o trabalho que corresponde à obrigação legal e moral do Poder Público. Por que o contribuinte que paga impostos ainda têm de fazer o trabalho dos servidores públicos? 

Para esses, a greve não afetará em nada. E, pensando desse modo, confesso que quando regressei, em 2014, esperava encontrar outra realidade, com menos atuação do poder local. Ledo engano do otimista (já dizia Nelson Rodrigues).