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Presídio da região tem tarde de gala para eleger Miss Primavera

Concurso Miss Primavera no Presídio de Pirajuí – Marcus Libório/Divulgação
Concurso Miss Primavera no Presídio de Pirajuí – Marcus Libório/Divulgação

As reeducandas da Penitenciária Feminina “Sandra Aparecida Lario Vianna”, de Pirajuí, tiveram uma tarde de gala durante o 4º Concurso Miss Primavera. Um misto de ansiedade e alegria tomou as candidatas, que, por algumas horas, se sentiram livres para sonhar com uma nova história.

“Quando desfilei, esqueci que estava presa. Parece que as grades simplesmente desapareceram”. A frase é de Ana Paula Barros Carvalho, 27 anos. Ela foi eleita Miss Primavera após disputa acirrada. Neste ano, aproximadamente 120 presas de todos os pavilhões se inscreveram para o concurso. Deste total, 30 foram selecionadas para participar da etapa final.

Com intuito de elevar a autoestima das detentas, resgatar valores como autonomia e dignidade e promover a diversidade no cárcere, o torneio elegeu ainda uma Miss Plus Size Primavera (categoria para mulheres que usam roupas acima do padrão convencional) e um Mister Primavera, que contou com a participação de reeducandas transexuais.

Na penitenciária, Ana Paula passou a refletir mais em suas atitudes e fala em mudar de vida ao ganhar a liberdade. “Quero estudar. Sonho em ser engenheira civil”, conta.

De Itaí, está presa há sete meses. “Sinto falta da minha família. Quando eu sair, voltarei ao convívio dos meus pais e pretendo retomar o meu emprego e ver com quem a gente anda, para não entrar no caminho errado de novo”, projeta.

Sobre a conquista, Ana Paula conta que não esperava vestir a faixa de Miss Primavera. “Fiquei muito feliz. Vi os ensaios, todas as meninas muito bonitas, então não imaginava que iria ganhar”. 

DIVERSIDADE

Além de estimular a autoestima das presas, o concurso de beleza visa ainda promover a diversidade no sistema prisional. Para tanto, inclui a categoria Miss Plus Size, que, neste ano, teve como vencedora a detenta Paula Benedita Ramos da Silva Bento, 33 anos.

Os concorrentes a Mister Primavera também envolveram bastante o público e os dez jurados que avaliaram os candidatos.

Com simpatia e elegância, o eletricista Maicon Douglas Santos Forte, 28 anos, foi quem faturou o título. Ao final do concurso, ele desabafou ao dizer que precisou lidar várias vezes com o preconceito.

“Já fui espancado, estuprado. As pessoas têm que entender que existe diversidade e todos precisam ser respeitados. Mas, graças a Deus, superei tudo isso e, hoje, estou aqui para mostrar que a gente pode fazer a diferença”, destaca.

Maicon conta que, quando deixar a prisão, vai focar em dois projetos pessoais. “Meu sonho é ajudar crianças que vivem o mesmo drama que já vivi: abuso sexual, fome. E, principalmente, apoiar moradores de rua, assim como eu sou, a deixarem o vício das drogas”.

TRANSFORMAÇÃO

O concurso premiou mais duas categorias: Princesa, que teve como escolhida a reeducanda Jenifer dos Santos Fabrício da Silva, 23 anos; e Miss Simpatia, que condecorou a costureira Ana Paula Santos da Silva, de 32 anos.

“Já roubei muito, já vendi drogas. E esse não é o caminho que eu quero porque tenho um filho. O que seria, por exemplo, uma pessoa vender uma droga para o meu filho? Agora, quero um caminho em que eu possa trabalhar. Sair daqui de cabeça erguida”, projeta Ana Paula. 

Diretora da Penitenciária Feminina de Pirajuí, Graziella Fernanda Rodrigues Costa define que trabalhar com a autoestima da mulher presa é mostrar que ela pode acreditar no seu valor e provar a si mesma que é possível alcançar todos os sonhos.   

“Acima de qualquer coisa, que ela pode sair daqui uma mulher transformada, com outros valores para retornar à sociedade de maneira mais digna”, finaliza Costa.