Bezinha, no leito da miséria, estava deitada de barriga cheia. Ali, com aquele barrigão que a impedia de respirar direito e a deixava lenta para pegar os fechos de lenha, lenta para a caminhada até o Rio Corrente para pegar água na lata, e pesada demais para ficar muito tempo, com as pernas finas, em frente ao fogão improvisado, para cozinhar a mandioca.
Estava deitada na esteira, com as pernas abertas e com um pano lhe cobrindo o corpo há muito tempo. As dores começaram cedo, desde antes do sol aparecer.
Lembrou que na última vez, durou apenas 4 horas, e já estava ali desde quando a alvorada vermelha anunciara a sequidão lá para os lados do paredão de pedra.
Estava com muitas dores, a água quente lhe escorreu as pernas já era tarde da noite, quando Maria, a parteira chegou e a fez sentar no tronco de aroeira que servia de banco. A criança logo estaria ali, chorando de fome.
Dessa vez teria leite, Isabel?
Sua farta barriga de feto esvaziou-se na noite escura, debaixo do telhado de palha, o choro penetrou a escuridão, anunciando mais uma boca de fome que iria reclamar, na seca daquele sertão, seu direito de viver.
Não tinha leite. Nem para beber e nem para amamentar.
“Tem que forçar a criança para o leite escorrer. O leite vem se a menina chupar. As crianças dessa terra, Cumadi, já nascem sabendo do labutar desse viver. Tem que se esforçar, Cumadi Bezinha”- dizia Maria, a parteira.
Bezinha murchou de uma hora pra outra. Agora, ali, quem a via, a comparavam a um “cambito” de árvore nova depois de pegar fogo no Cerrado. Magra que dava dó.
Ela, a criança, nasceu no último dia do ano. Na virada do ano ela nasceu. Um novo por vir, um rebento, rebentou-se na dureza e secura do Sertão e o eco do choro riscou a fumaça que penumbrava a casa improvisada debaixo daquele Juazeiro velho.
É de se saber:
Precisar ser forte e de ter coragem para nascer.