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Wall Street Journal critica gestão de crise do novo coronavírus no Brasil

Wall Street Journal critica gestão de crise do novo coronavírus no Brasil


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pessoa usa máscara e olha para baixo em fundo preto
Pixabay/Engin_Akyurt
Wall Street Journal revela condições de combate à pandemia no Brasil


No início desta semana, o Wall Street Journal publicou um artigo em que expõe a situação do Brasil diante da pandemia do novo coronavírus. A reportagem faz uma análise da crise no país, que vem criando alarme por ter potencial a ser o país mais afetado na América do Sul. O título escolhido para a matéria é: “Coronavírus devasta o Brasil, uma terra mal equipada para combatê-lo”.

A apuração do jornal teve foco na escassez de testes rápidos para diagnosticar a Covid-19, na situação do Amazonas e da cidade de Manaus – tendo, ainda, se aprofundado na vida de uma das vítimas fatais -, falta de equipamentos e no descaso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A publicação revelou, ainda, que o Brasil já ultrapassou o número de casos e mortes da China, onde o novo coronavírus começou a surgir, e pode ter a pior situação entre países em desenvolvimento. O país asiático tem 105.222 casos confirmados e 7.288 óbitos, e está em processo de reabertura gradual.

Dados oficiais divulgados ontem, 5, pelo Ministério da Saúde (MS) apontam que o Brasil atingiu 114 mil casos e prestes a alcançar as 8 mil mortes . No entanto, a publicação cita que o número pode ser muito maior que esse e usa dados de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) para embasar.

Segundo os cientistas, até o dia 28 de abril os casos de Covid-19 chegaram a mais de 1,2 milhão, número 16 vezes maior do que o divulgado naquela data, de 73.553.

Leia também: Brasil pode ser novo epicentro da pandemia no mundo, diz estudo

Estado do Amazonas

A reportagem apurou a morte da amazonense Maria Portelo de Lima, 61, que estava infectada com a Covid-19. Ela chegou a ser encaminhada a um hospital pela família, mas não havia leitos gratuitos ou ambulâncias disponíveis. Seu corpo demorou 30 horas para ser retirado e foi enterrado em vala comum. No terreno, ganhou uma cruz de madeira com seu nome escrito, que custou US$ 22, equivalente a cerca de R$ 124.

O caso de Maria serviu para ilustrar os 5 mil diagnósticos e 500 mortes diárias. Segundo um familiar, os leitos hospitalares estão lotados e os serviços de saúde não estão conseguindo lidar com a crise da doença.

O Wall Street Journal informou também a situação da cidade de Manaus, que é o epicentro do estado. O prefeito Arthur Virgílio (PSDB) chegou a chorar em público e a pedir ajuda para o governo federal e comunidades internacionais. “Estamos no nosso limite”, disse.

Segundo nota, a cidade de Manaus espera que o clima quente que está por vir possa conseguir frear o novo coronavírus no local, já que é menos provável que o vírus sobreviva em territórios de temperaturas mais elevadas.

“Gripezinha”

O Wall Street Journal também abordou uma série de declarações dadas por Jair Bolsonaro, evidenciou sua briga com os governas estaduais e com especialistas, relembrou a demissão de Luiz Henrique Mandetta , que estava à frente do Ministério da Saúde, e chegou a chamá-lo de “cético confesso” da doença.

Uma fonte teria afirmado que Bolsonaro tem feito aglomerações e incentivado contatos sociais. O presidente também é a favor da reabertura do comércio. O Wall Street Journal destacou sua fala da semana passada quando, questionado pelo alto número de mortes, ele respondeu “e daí?”. “Eu sinto muito. O quê você quer que eu faça?” , disse aos jornalistas

Países vizinhos

A situação do Brasil foi comparada a da Argentina , Chile, Colômbia e Paraguai. A Argentina fechou as fronteiras com o Brasil e, ao decretar lockdown há um mês, teve apenas 246 óbitos. Com medidas similares, a Colômbia registrou 340 óbitos e o Chile, 275.

A publicação traz fala do presidente argentino Alberto Fernández dada em coletiva, em que afirmou que o Brasil era uma grande preocupação. O Paraguai fez uma trincheira pela estrada que entra ao Brasil para que não haja fluxo de migração e o vírus não seja espalhado. Esta, aliás, é a maior preocupação atualmente dos países vizinhos.