Weber na jaula de Mad Max

A “jaula de ferro” de Max Weber é a racionalidade, a jaula do filme Mad Max – “entram dois, sai um” – é o fim do Político causado pela mesma racionalidade que levou ao descalabro atual do capitalismo.

Homo lupus homini – homem lobo do homem – é uma máxima do filósofo renascentista Thomas Hobbes, mas nunca foi tão real, quanto hoje. Predadores de si, da natureza, dos outros, sistema e homem consomem tudo que solidificava a condição humana.

Quando somamos esta certeza lucrativa à assertiva do pensador alemão Karl Marx – “tudo que é sólido desmancha no ar” –, então, temos a sensação/conclusão de que a Humanidade e sua tecnologia/teologia fagocitaram a teleologia.

Para o progresso do capital, pode-se extirpar a “vida inteligente” do planeta. A racionalidade do capital – quando ignoramos que “o coração tem razões que a própria razão desconhece” (Pascal) – pode e vai nos matar.

A saída, de certo modo, estaria no próprio Hobbes. Pois, o papel de inibição do lupus seria do Estado ou do Político. Porém, não se confundam os termos: o Estado corresponde ao Poder Político; o Político é o espaço público que rege a condição humana: politikon.

A direção dada pelo Estado (endeavour), fortalecendo o conatus – um tipo de conexão cognitiva, moral, social – implicaria em ordem. Entendendo-se esta ordem como condição humana (o Político, de Polis), ou seja, elevação do padrão cultural, moral inerente ao processo civilizatório.

A tal “jaula da destruição” – Mad Max, contudo, é uma alusão ao fim do Político, quando resta apenas um espaço em que os conflitos se resolvem pelo mais forte fisicamente, pelo mais bárbaro…enfim, pela violência bruta.

Essa situação se encontra num mundo sem Estado – como realidade do direito construído pelas demandas sociais –, sem ética; é chegado o tempo em que resta somente a luta pela sobrevivência primária. Do “estado de natureza” (Hobbes), a que retornamos, corremos céleres para um estado sem natureza (Mad Max).

Em todos os sentidos, o filme (Mad Max) é muito interessante para pensarmos os rumos que estamos tomando atualmente. Despolitização, alienação profunda, perda de alteridade mínima de convivência, diante de um sistema produtivo altamente ameaçador para nossa existência…consumindo a tudo e a todos, sem dó e nem piedade.

Neste país, sem individualizar, combinamos com maestria duas pragas do Egito: autocracia + patrimonialismo. Nesta base, não há padrão cultural que se livre da corrupção, do fascínio pela violência, da negação do direito, da expropriação. Por isso, revelamo-nos mestres na arte da Licantropia[1].

Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Ajunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH

Cláudio Reis (Dr.)
Professor de Ciência Política da FCH – Universidade Federal da Grande Dourados

[1] http://www.gentedeopiniao.com.br/imprimir.php?news=101674.