11 perguntas e respostas sobre o câncer infantil

11 perguntas e respostas sobre o câncer infantil

Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam uma estimativa de 7.930 casos de câncer em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos anualmente, entre 2023 e 2025, com risco estimado de 134,8 casos por milhão de crianças, veja 11 perguntas e respostas sobre o câncer infantil.

O câncer infantil ainda é considerado uma doença rara e os números são muito inferiores ao registrado em adultos, correspondendo a apenas 3% dos casos da doença. Porém, é um assunto que assusta muito e é preciso estar atento aos sinais de alerta.

Por isso, a Inspirali, ecossistema de educação médica, convidou o Dr. Kevin Augusto Farias de Alvarenga, oncologista pediátrico e professor na UniBH, para informar e orientar pais, tutores e cuidadores sobre os riscos, sinais de alerta e avanços na medicina com relação à doença. Confira!

1. Quais são os principais tipos de câncer que acometem crianças?

O câncer mais comum na infância é a leucemia, seguida dos tumores do sistema nervoso central (tumores cerebrais). Linfomas, tumores do sistema nervoso autônomo simpático, tumores renais e sarcomas também são frequentes. A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é o tipo mais comum de câncer infantil, representando cerca de 25% dos casos em crianças.

2. Esse cenário mudou na última década?

A distribuição dos tipos de câncer na infância parece ser estável ao longo das décadas. As leucemias sempre foram as mais prevalentes. Observa-se, no entanto, algum aumento no diagnóstico de tumores do sistema nervoso central, provavelmente não por um aumento da incidência em si, mas pelo maior acesso a exames diagnósticos antes do óbito, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética.

3. Qual é o tipo de câncer mais agressivo?

A agressividade do câncer depende de diversos fatores. Há, por exemplo, leucemias de evolução mais favorável, cujo tratamento é mais simples, e outras muito agressivas, refratárias ao tratamento. Isso vale para a maioria dos cânceres pediátricos. Tumores que se espalham para outros locais, geralmente têm menor chance de cura.

4. Quais são os tipos de câncer em crianças causados por agentes externos?

Diferentemente dos adultos, nos quais fatores ambientais como tabagismo e exposição solar estão claramente associados ao desenvolvimento de câncer, os cânceres infantis não possuem uma ligação direta com agentes externos. Eles ocorrem por alterações genéticas esporádicas (cerca de 90% dos casos) ou hereditárias (cerca de 10% dos casos).

Desta maneira, não há, atualmente, um meio para evitar o câncer infantil. De todo modo, uma vida saudável, com alimentação adequada, atividades físicas, uso de protetor solar e evitar agentes tóxicos, inclusive radiação ionizante (exames de raio-x e tomografias em excesso) é sempre recomendada.

5. Quais os principais sinais de alerta do câncer infantil?

Os sinais de alerta para o câncer infantil podem ser sutis e semelhantes a outras doenças comuns na infância. Os pais devem estar atentos a sintomas que persistem, como febre prolongada sem causa aparente, perda de peso inexplicada, palidez ou cansaço excessivo, dor óssea ou nas articulações, manchas roxas ou sangramentos sem motivo claro, aumento de linfonodos (ínguas) que não regridem, dores de cabeça frequentes, especialmente ao acordar e acompanhadas de vômitos, alterações na visão ou reflexo esbranquiçado na pupila e inchaço abdominal ou em outras partes do corpo.

É importante consultar um médico ao identificar sintomas nas crianças (Imagem: Studio Romantic | Shutterstock)

6. No caso de algum destes sintomas, o que os pais devem fazer de imediato?

Ao perceberem esses sinais, os pais devem procurar atendimento médico pediátrico o mais rápido possível. O diagnóstico precoce é fundamental para aumentar as chances de sucesso do tratamento.

7. Como é o tratamento do câncer infantil?

O tratamento do câncer infantil varia conforme o tipo e a extensão da doença, mas geralmente inclui cirurgia para remoção do tumor, quimioterapia para destruir células cancerígenas e radioterapia também para eliminar células tumorais.

Algumas leucemias podem necessitar de transplante de medula óssea, para eliminar as células cancerígenas da medula. Novos tratamentos, como a imunoterapia, que consiste na fabricação de anticorpos, ou mesmo células, capazes de lutar contra o câncer dentro do indivíduo, também já é uma realidade.

O tratamento é geralmente realizado por uma equipe multidisciplinar, incluindo oncologistas pediátricos, cirurgiões, radioterapeutas, enfermeiros e outros profissionais de saúde como nutricionistas, dentistas, fisioterapeutas e fonoaudiólogos, visando proporcionar o melhor cuidado e reabilitação para a criança.

8. Quais são os principais avanços em relação ao tratamento?

Nos últimos anos, o tratamento do câncer infantil tem avançado significativamente, com a criação de terapias cada vez mais precisas. Exemplos claros disso são as terapias com células CAR-T, que envolve a modificação genética dos linfócitos T do próprio paciente para que eles reconheçam e combatam as células cancerígenas. Hoje este tratamento já é aplicável às leucemias na infância, mas tem o potencial de ser útil para outros cânceres futuramente.

Outros medicamentos imunoterápicos, como blinatumomabe também para as leucemias, o dinutuximabe e o naxitamabe para os neuroblastomas, o selumetinibe para neurofibromas plexiformes associados à neurofibromatose tipo 1, também já têm sido utilizados no arsenal terapêutico de doenças que já foram consideradas incuráveis.

Há também avanços na radioterapia, com técnicas modernas, como a radioterapia de intensidade modulada (IMRT) já disponível no Brasil e a terapia de prótons, esta ainda não disponível no país, permitem direcionar doses mais precisas de radiação ao tumor, minimizando danos aos tecidos saudáveis e reduzindo efeitos colaterais.

9. Tem algum tratamento novo em estudo ou programado para os próximos anos?

Sim, há várias terapias emergentes em estudo clínico que envolvem principalmente terapias combinadas, que utilizam tratamentos tradicionais com as novas tecnologias de imunoterapia para melhorar os desfechos das doenças cujo tratamento adicional não traz boas taxas de sucesso.

10. Crianças têm mais chances de cura de um câncer do que adultos?

Sim, de modo geral, as crianças apresentam taxas de cura mais elevadas em comparação aos adultos. Isso se deve a vários fatores. Por sua natureza biológica, os cânceres infantis tendem a ser mais responsivos à quimioterapia ou radioterapia. Além disso, o organismo infantil possui uma maior capacidade de regeneração e tolerância aos tratamentos mais agressivos.

11. Qual a importância de uma rede de apoio para os pais enfrentarem esse momento delicado?

Uma rede de apoio pode fornecer suporte emocional, orientações práticas de quem já vivenciou situações semelhantes, apoio financeiro e logístico, como moradia perto do centro de tratamento. Grupos de apoio e aconselhamento psicológico ajudam os pais a lidarem com o estresse, medo e ansiedade associados ao diagnóstico e tratamento. Organizações e comunidades, como casas de apoio, podem oferecer assistência às famílias durante o tratamento.

Por Juliana Antunes