Foi lançada hoje (13), na capital paulista, a campanha de esclarecimento sobre a depressão Pode Contar, com enfoque na empatia, ou seja: a capacidade de familiares e amigos se colocarem no lugar da pessoa que sofre com a depressão. O conteúdo da campanha está disponível no site da campanha que oferece pacote de orientações para quem quer ajudar e para quem precisa de ajuda (veja abaixo algumas dicas).
Carmita Abdo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que a empatia não é passar a mão na cabeça ou sentir pena de quem sofre com a doença, mas se colocar no lugar do outro: “É se reconhecer no outro. Nós na ABP falamos muito de combater o estigma da depressão e nada melhor que exercitar a empatia”, disse.
De acordo com a médica, a empatia envolve processos afetivos e cognitivos e se traduz na capacidade de perceber os sentimentos e emoções da outra pessoa, sem julgamentos. Segundo ela, as doenças mentais estão entre as dez patologias mais prevalentes de um total de 32 doenças incapacitantes para o trabalho.
Para a cardiologista Roberto Miranda, da Faculdade de Medicina da USP, muitas vezes é o médico primário – como cardiologista ou ginecologista – que identifica os sintomas.
“Muitos pacientes têm alterações cardíacas, dor de cabeça, dor no peito, palpitações e crises de hipertensão. Eles vinham ao pronto-socorro com essas crises e, após o tratamento contra a depressão, não voltavam mais ao atendimento de emergência”, alerta. O especialista explica que a depressão tem também relação com outros eventos cardiovasculares e está associado ao aumento do risco de infarto.
Táki Cordás, coordenador de ambulatório no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, disse que quanto menos desenvolvida é a sociedade, maior a demora para se buscar ajuda. “Estima-se que 70% das pessoas que precisam de tratamento não estão recebendo”, disse ele. De acordo com ele, o paciente que toma a medicação por seis meses e decide descontinuar o uso tem 80% de chances de sofrer uma recaída.
COMO AJUDAR
Confira sete formas de ajudar um paciente com depressão, disponível com mais orientações no site da campanha Pode Ajudar
1 – Ouça com atenção e acolha
Ouvir o que a pessoa tem a dizer é uma das melhores formas de ajudá-la. Olhe nos olhos, preste atenção e leve em consideração o que ela está dizendo. Não desmereça a sua condição. Exerça a empatia e ofereça o seu suporte e acolhimento, sem julgamentos.
2 – Estimule-a a procurar ajuda profissional
As suas intenções poderão ser as melhores, mas elas não substituirão o tratamento de um profissional. “É extremamente importante procurar ajuda profissional. Muitas vezes, a pessoa não quer. Deve-se ser resiliente e continuar sugerindo a consulta com um médico”, diz Luiz.
O psiquiatra conta que a maioria dos seus pacientes chega ao consultório acompanhada de um amigo ou parente — principalmente os homens, que normalmente são mais relutantes em procurar ajuda do que as mulheres. Uma das formas de estimular quem está em depressão a ir ao médico é procurar um bom profissional e se oferecer para marcar a consulta. Além disso, sugira acompanhá-lo.
Relacionamentos, segundo Scocca, são um fator de proteção para quem tem depressão. Pessoas muito sozinhas estão mais suscetíveis a sofrer com a doença até que se agrave. Já quem tem bons amigos ou familiares próximos pode contar com essa ajuda para buscar tratamento.
3 – Desencoraje o consumo de álcool e drogas
Álcool e drogas são válvulas de escape para quem tem depressão. Porém, são muito perigosas, pois podem piorar o quadro pelo seu efeito depressor. Portanto, você pode convidar o seu amigo para socializar e se distrair, mas não o estimule a beber ou a usar qualquer tipo de droga.
4 – Sugira a prática de esportes
A atividade física é uma grande aliada de quem está em depressão. Junto a outros métodos de tratamento, pode melhorar o humor e qualidade de vida. Para estimulá-lo a se exercitar, convide-o para caminhar, praticar algum esporte de grupo, participar de alguma aula ou ir à academia. Além de fazer bem para corpo e mente, a atividade física é um incentivo para sair de casa e socializar.
5 – Incentive a socialização
Quando a pessoa em tratamento estiver se sentindo mais forte ou disposta, você pode tentar animá-la a sair de casa e a socializar com outras pessoas. No começo provavelmente será difícil e ela irá relutar. Mas não desista e muito menos leve as negativas para o lado pessoal. Continue convidando para passeios ou atividade sociais, uma de cada vez, até que uma hora ela vai dizer sim.
6 – Reforce o fato de que a depressão é uma doença que tem tratamento
A depressão não é um transtorno simples, que pode ser superada sem ajuda. Mas é completamente tratável. No início do tratamento, há um período de adaptação e pode ser difícil enxergar um horizonte. Mas é importante lembrar a pessoa deprimida de que, na grande maioria dos casos, o tratamento funciona. Ou seja, uma hora ela vai se sentir melhor.
7 – Não ignore comentários suicidas
Existe uma ideia muito difundida no Brasil que diz que “quem vai se matar não avisa ou tenta, apenas se mata”. Isso é completamente falso. De acordo com Luiz Scocca, metade das pessoas que tentam se suicidar realmente conseguem. Além disso, 35% das tentativas malsucedidas são realizadas de novo dentro de um ano.
Portanto, nunca ignore um comentário sobre suicídio. Pelo contrário, leve-o a sério. Nesse caso, o que você pode fazer é conversar com a pessoa sobre isso e estimulá-la a procurar ajuda profissional o quanto antes. Avisar o terapeuta ou o psiquiatra responsável pelo caso também é uma saída.
Além de nunca ignorar um comentário suicida, não atrapalhe o andamento do tratamento. Isso significa não insistir em concepções falsas sobre a depressão, como a ideia de que é frescura ou uma tristeza passageira. Negar a existência da doença também é perigoso, assim como refutar automaticamente um comentário sobre suicídio.
O ideal, portanto, é oferecer o seu apoio com responsabilidade. Pronto para ajudar?
Referência: Conteúdo produzido a partir de entrevista com o Dr. Luiz Scocca, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associação Americana de Psiquiatria (APA) em setembro/2018