Saúde

Coronavírus: casos sem sintomas representam risco ainda maior

Coronavírus: casos sem sintomas representam risco ainda maior


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SÃO PAULO — Um grande número de casos de coronavírus não notificados pode fazer com que a taxa de letalidade da doença seja menor do que a divulgada oficialmente, de 2% a 4%. Esses números, porém, não tornam a epidemia necessariamente menos grave, já que os casos nos quais os infectados não têm sintomas — e por isso não são registrados — parecem ser justamente os que sustentam o crescimento da epidemia , afirmam especialistas.

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Cientistas argumentam que atenções sobre coronavírus podem estar com prioridades erradas

Um novo estudo mostra que a maneira com que o novo coronavírus se espalha entre as pessoas tem mais a ver com infecções de resfriados comuns (como os coronavírus conhecidos pelas siglas OC43 e NL63) do que com os patógenos mais agressivos, como os que causaram as epidemias de MERS e da SARS.

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Comparado aos vírus de resfriado, o novo patógeno identificado com a sigla 2019-nCoV, pode causar problemas severos em um número um pouco maior de pessoas. Mas ele continua aproveitando os infectados que não apresentam sintomas para se espalhar rapidamente.

Ao olhar para os coronavírus ordinários, cientista veem um padrão de subnotificação alto:

“Nós descobrimos que a maioria das infecções são assintomáticas dentro de qualquer definição adotada, e que apenas 4% dos indivíduos num episódio de infecção sazonal de coronavírus procuraram atendimento médico em razão dos sintomas”, escrevem os sanitaristas Jeffrey Shaman e Marta Galanti da Universidade Columbia, de Nova York, que já há algum tempo vem monitorando coronavírus de resfriado.

“Esses números indicam que uma percentagem muito alta de coronavírus sazonais não é documentada e fornecem uma referência para entender a disseminação do novo coronavírus”, afirmam os pesquisadores num estudo preliminar publicado nesta semana.

Segundo os cientistas, a preocupação com os casos assintomáticos do patógeno que surgiu na China parte do princípio de que seu comportamento é similar ao dos “primos” menos agressivos do vírus, e há razões concretas para se acreditar nessa semelhança. A explicação mais plausível para a velocidade com que a epidemia cresce, por exemplo, é que os casos notificados sejam uma pequena fração daqueles que efetivamente existem, e por isso, o isolamento dos doentes não está contendo a epidemia.

“A velocidade e a extensão geográfica do deslocamento dela pela China e outros países são provavelmente relacionadas à verdadeira prevalência do patógeno e sugerem que há muito mais infecções”, escrevem Shaman e Galanti. “Em outras palavras: a taxa de notificação é baixa.”

A estimativa da dupla de Columbia foi feita com base em estudos de coronavírus em pacientes, mas está alinhada também com estudos que usam modelos matemáticos para entender a epidemia. Um trabalho publicado ainda em janeiro pela escola Médica da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, estimou que os casos notificados do novo coronavírus são de apenas 5%, similares aos relatados por Columbia.

Bolha assintomática

Segundo pesquisadores, esses números explicam por que Wuhan, a cidade epicentro da epidemia na China, parece ter uma taxa de letalidade que é maior, atingindo mais de 4%, enquanto em outras cidades chinesas a taxa é menor (2%). Como o vírus se espalhou mais em Wuhan, e a cidade teve problema para acomodar os doentes, menos atenção foi dada a pacientes com sintomas amenos, o que aumenta a subnotificação.

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— Durante um surto é preciso interpretar taxas de letalidade com ceticismo, porque em geral são só os casos severos que vêm a público — diz Amesh Adalja, epidemiologista da Universidade johns Hopkins, de Baltimore (EUA).

A impressão de que casos assintomáticos ou com sintomas leves escaparam da vigilância de saúde aparece também de relatos dos próprios chineses. Entrevistada pela agência Reuters, Meiping Wang, moradora de Wuhan, disse que ela e sua irmã acreditam ter tido casos leves do vírus depois que a mãe delas testou positivo, mas não passaram por diagnóstico . “Não adianta ir ao hospital porque não há tratamento”, disse.

Segundo especialistas, é comum que as taxas de mortalidade de novos patógenos sejam superestimadas inicialmente.

— É bom lembrar que, quando a gripe H1N1 surgiu em 2009, as estimativas de mortalidade de casos eram de 10% — disse David Fisman, epidemiologista da Universidade de Toronto. — Esse número acabou se mostrando incrivelmente errado. À medida que o denominador cresceu em termos de número de casos, e a fatalidade diminuiu cada vez mais, começamos a perceber que o patógeno estava em todo lugar.

Por causa dos danos sociais e econômicos que esquemas de quarentena e toque de recolher podem causar a cidades, os especialistas têm sido reticentes em recomendar medidas extremas de isolamento .

— Existem muitas ações em todo o mundo que têm como premissa a idéia de que essa é uma doença muito grave — disse Adalja, da Johns Hopkins.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse na segunda-feira que as proibições eram uma interrupção desnecessária nas viagens e no comércio.

Com Reuters

Fonte: IG SAÚDE