Interrupções noturnas são características marcantes de uma noite mal dormida. O impacto a longo prazo, no entanto, vai muito além do cansaço no dia seguinte. De acordo com um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e do Centro Dinamarquês de Medicina do Sono, a fragmentação do sono pode elevar o risco de morte em 29%, e proporcionar uma redução na expectativa de vida de quase nove anos.
O trabalho, publicado na revista científica npj Digital Medicine, do grupo Nature, avaliou os efeitos da chamada ‘idade do sono’ incompatível com a real idade do indivíduo. Para isso, primeiro os cientistas analisaram o sono de diversas faixas etárias – a partir de fatores como movimentações, interrupções noturnas, respiração e frequência cardíaca –, atribuindo o perfil médio de uma noite em cada uma delas. Com isso, eles monitoraram o sono de mais de 10 mil participantes de 20 a 90 anos e atribuíram a cada um a idade com a qual o perfil do sono era mais compatível.
Alguém com 45 anos, por exemplo, mas cuja ‘idade do sono’ era de 55 anos, estava dormindo mal, segundo a avaliação dos especialistas. Por outro lado, se fosse atribuída a essa pessoa uma idade de 35 anos, a qualidade do sono estaria acima da média. Os pesquisadores estudaram então qual era o fator que mais influenciava para uma ‘idade do sono’ incompatível com a biológica, e como essa diferença impactava na saúde.
“Nossa principal descoberta foi que a fragmentação do sono, quando as pessoas acordam várias vezes durante a noite por menos de um minuto sem se lembrar, foi o mais forte preditor de mortalidade (…) Isso é diferente de uma pessoa perceber que estava acordando, o que acontece durante distúrbios do sono, como a insônia”, afirmou o autor principal do estudo e pesquisador de Stanford, Emmanuel Mignot, em entrevista ao portal da universidade.
Isso porque os cientistas descobriram que essa noite de baixa qualidade altera a ‘idade do sono’, e cada aumento de 10 anos nesse índice, em comparação à idade real, elevou o risco de morte para todas as causas em 29%. Além disso, cada década a mais ou a menos na ‘idade do sono’ alterou a expectativa de vida em 8,7 anos.
“Descobrimos que pessoas com idades de sono mais velhas em comparação com sua idade real têm um risco aumentado de mortalidade, com base no sono de pacientes que morreram mais tarde. A partir de outros estudos, sabemos que o sono ruim é encontrado em uma variedade de condições (de saúde), como apneia do sono, neurodegeneração, obesidade e dor crônica”, explica Mignot.
Outros estudos já haviam apontado que o sono de baixa qualidade eleva o risco para quadros de demência, Alzheimer e doença de Parkinson. Além disso, o novo trabalho mostrou que uma ‘idade do sono’ dez anos maior aumentou o risco de doenças cardiovasculares em 40%. Apesar dos resultados alarmantes, Mignot explica que há como reverter o cenário, e oferece dicas para melhorar a hora de dormir.
“Ir para a cama e acordar em horários regulares é a chave para melhorar seu sono. Isso não significa dormir demais, mas garantir que você esteja totalmente descansado pela regularidade. É uma quantidade diferente para todos e muitas vezes a janela varia um pouco. Obter exposição à luz sólida – de preferência com luz externa – durante o dia, manter o ambiente de sono escuro à noite, exercitar-se regularmente, mas não muito perto da hora de dormir, não beber álcool e cafeína perto da hora de dormir e evitar refeições pesadas à noite contribuem para um sono saudável. E, claro, certifique-se de que qualquer distúrbio do sono seja tratado”, orienta o especialista.
Agora, os pesquisadores estão trabalhando com outros cientistas da Universidade de Harvard para coletar os dados de 250 mil estudos referentes ao sono. A ideia é ampliar a avaliação dos impactos de se ter uma ‘idade do sono’ diferente para a saúde.
Fonte: IG SAÚDE