Ainda bem. É essa a reação do ator Wellington Nogueira, 54 para a constatação de que a presença de palhaços como forma de humanizar internação em hospitais ainda é vista como inovação quase 30 anos depois de a ideia ser lançada.
Wellington, o Dr Zinho, fundador do grupo Doutores da Alegria e pioneiro da atividade no país, diz que os grupos existentes apenas “arranharam a ponta do iceberg” que o Trabalho pode produzir.
Radicado em São Paulo, de onde dedica-se exclusivamente a projetos do grupo, ele esteve na cidade para uma palestra que celebrou os 86 anos da Santa Casa de Marília, onde pelo menos dois grupos – Terapeutas do Sorriso e Klínica da Alegria – trabalham com proposta de palhaços e humanização.
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A palestra lotou auditório no Quality Sun Valley, com representantes de grupos d epalhaços que atuam na cidade, contadores d ehistórias, profisssionais da saúde e dirigentes do hospital, representado pelo diretor de Gestão, Márcio Mielo, pelo 2º vice-provedor, Luiz Antonio orlando, e pela superintendente Kátia Santana.
O encontro rendeu pouco mais de uma hora de informações, emoções e muitas risadas. Wellington, que fez a apresentação acompanhado pela atriz e integrante do grupo Roberta Calza, a Dra Sakura, destacou que o trabalho busca conexão com os pacientes.
Isso envolve entender que tipo de mensagem eles precisam, inclusive quando uma criança recusa a presença do palhaço em seu quarto, mostrou imagens do trabalho e até gráficos para mostrar o sucesso do projeto. Destacou um número: 94,6% dos médicos ouvidos dizem que a atuação dos palhaços melhora a relação dos profissionais com os pacientes.
“O termo que nós usamos para o que se busca hoje é Alfabetização Relacional. Vivemos um tempo de doenças nas relações e é difícil saber onde começa e onde terminal o hospital”, disse o ator.
Welington participou em 1986 em Nova York do lançamento do primeiro projeto do gênero, o Big Apple Circus Clown Care Unit. Trouxe a proposta para o Brasil, onde fundou o grupo Doutores da Alegria já na década de 90. Vê muitos avanços e outros tantos compromissos. “Ainda há muita resistência. Uma parte do trabalho é mudar os processos de gestão, o modo de olhar dos hospitais. Há uma sedimentação de pontos de vista”, afirma.
Os desafios existem até para os grupos já instalados. “Muito difícil manter a figura do palhaço com tecnologia tão difundida, tablets, celulares. Exige refinamento para manter a conexão com o ser humano.” Há também os limites da realidade: como pensar em humanizar ambientes quando há hospitais superlotados, sem remédios, com pacientes nos corredores?
Enquanto briga contra tudo isso, Welington ainda semeia sonhos para o futuro, como incluir a besteirologia como disciplina na formação de novos médicos.
DRA SAKURA
Uma “profissional” já comprou a ideia: Dra Sakura, a personagem da atriz Roberta Calza, formada pela escola Internacional de Teatro Jacques Lecoq, que há 15 anos está com os Doutores da Alegria. Ela acompanhou Welington na apresentação e disse que o envolvimento com o trabalho foi arrebatador.
“A relação no hospital é muito impactante. Quando conheci entendi minha função como atriz, vi que eu queria me relacionar desta maneira com o trabalho. O público no hospital não eram cem, como no teatro. Era um. Isso rompeu algumas barreiras, foi revelador”, explica