Até agora, cerca de 29 mil pessoas de 102 países já se ofereceram para uma infecção proposital com o novo coronavírus ( Sars-CoV-2 ). A motivação, porém, tem base científica e até uma campanha de incentivo: o 1daySooner , plataforma criada por uma equipe independente de médicos e cientistas que defende a realização dos testes com infecção deliberada como como forma de acelerar o desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19 .
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1 day sooner, em português, significa algo como “um dia mais cedo” e refere-se aos estudos que apontam a quantidade de vidas perdidas por dia durante a pandemia. De acordo com a equipe que desenvolveu a campanha – fundada ainda antes da chegada de qualquer vacina à fase dos testes em humanos – o objetivo é acelerar a terceira etapa no desenvolvimento de uma possível vacina , a mais demorada e delicada do processo.
A infecção deliberada de voluntários é uma prática pouco comum que pode facilitar a detecção da eficácia da vacina, que seria analisada diretamente em vez de aguardar uma infecção inadvertida dos milhares de voluntários para cada possível fórmula – forma como costumam desenvolver estudos dessa natureza. A técnica de pesquisa já foi utilizada na investigação de outras doenças, como gripe, cólera e, mais recentemente, zika .
A ideia ainda ganhou força após um artigo do epidemiologista Marc Lipsitch, da Universidade Harvard , defender que pesquisas com infecção voluntária seriam uma das iniciativas mais consistentes no combate à pandemia da Covid-19. Para a pesquisadora, existe o “direito ao risco” dos cidadãos e aponta o “critério de emergência” relacionado à crise global. O assunto, porém, esbarra em dilemas éticos e jurídicos.
No início deste mês, a revista New York Review – um dos periódicos de ideias mais influentes do mundo – publicou um artigo que expõe o conflito dos testes com infecção deliberada. Enquanto, de acordo com os protocolos usuais de saúde, a ideia de infectar propositalmente pessoas com um vírus de letalidade razoável e nenhuma cura até o momento parece absurda, por outro lado existem os dados que apontam 7 mil mortes a cada dia sem que uma vacina seja disponibilizada.
Atualmente, dez das 136 vacinas candidatas em estudo para combater a Covid-19, estão em fase clínica (com testes em humanos). Nenhuma delas aplica a infecção dos voluntários como fase possível. Entre as mais avançadas até o momento, está a vacina desenvolvida pela Universidade Oxford , que realizará parte dos seus testes no Brasil e deve vacinar até 10 mil voluntários. Além do desenvolvimento, há fases importantes, como ampliação da capacidade de produção, política e estratégia de vacinação e distribuição.