Negro com Pinta de branco…

Negro com Pinta de branco… a piada mais sórdida que ouvi até hoje e ouvi de um Professor negro.

Neste dia de reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, data foi escolhida para coincidir com o dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares que é reconhecido como um dos pioneiros na resistência contra a escravidão e último dos líderes do Quilombo dos Palmares o mais importante do Brasil, aproveito pra relatar fatos da minha vida que refletem o racismo velado do nosso amado povo.

Já ouvi que o racismo não existe, já ouvi que ele não é grande no Brasil, mas de fato o nosso racismo é velado e se esconde atrás de pequenos atos diários que até  mesmo o negro em razão do condicionamento da sociedade acaba agindo de forma racista algumas vezes.

Fui adotado e criado desde o nascimento por uma família “branca”, razão pela qual o racismo não me ser ensinado na forma prática, pois ele não sabiam o que era. Meus pais me deram o maior amor que recebi na vida até hoje, e pra me preparar para o Racismo cada um usou de um caminho.

Meu Pai dizia que eu devia ser autoridade, Militar, Promotor de Justiça para que isso inibisse os atos e minha mãe trabalhou minha autoestima e digo funcionou. Talvez esteja ai a solução.

Aprendi a entender o racismo na prática com a vivencia diária, tendo que distinguir o que é racismo do que é brincadeira, pois em razão de ser velado o mesmo se confunde e acaba se escondendo até mesmo no tom da fala.

Aprendi a amar e apreciar a cultura negra sozinho porque as escolas não ensinam isso, a admirar Reis e História Africana, note que o que nos é passado é a História Européia  por ser resultado de nossa colonização.

Vivemos o racismo diariamente e até mesmo nos tempos dificuldade de reconhecer isso, estudei praticamente a vida toda em Escola particular e na maioria das vezes sendo o único negro da sala e um dos poucos da escola.

Tive que crescer pra entender que muito do que aconteceu é racismo, mas também notei que muito do que evolui e me tornei, tendo raciocínio rápido e respostas prontas foram armas que desenvolvi para me defender.

Hoje adulto meus pais contam com tranquilidade ocorridos que nos anos 80 passavam em silencio e que hoje seriam passiveis de cadeia. Meu pai conta que um dia, quando criança indo a um restaurante com meus pais e na grande São Paulo, entrei correndo e o garçom gritou: “onde você vai Neguinho, aqui não pode pedir!!!” momento que meu pai interferiu dizendo que era filho dele. O garçom ficou sem graça.

Esta  é uma de muitas histórias que eles vivenciaram e eu na pureza da infância não notei. Porém adulto, já advogado e grande de tamanho, o racismo persiste e irá persistir até meus dias finais. Contarei alguns aqui, um mais marcante e outro de dias atrás.

Notei que o racismo é algo cravado na alma, pois muitas vezes me qualifico como negão e muito gente diz: “você não é negão!!!” como se, se eu fosse não estaria ali.

Um dia fui fazer entrevista de emprego como advogado e carrego no meu nome descendência Italiana e Espanhola, na sala de espera para  entrevista só havia eu de terno e gravata, naqueles momentos que a ansiedade nos consome pré entrevista, estava la estático no aguardo.

Entra a selecionadora e diz: “Nossa o Dr. Fabricio não veio!?” Grite: “sou eu”, ela entorta a cabeça tipo: … “você?”. Manda entrar, faz duas perguntas e me dispensa.

Em outro momento muito mais recente, há um mês pra ser exato, estava em um encontro de carros antigos – possuo um e por sinal se destaca – o carro cercado de pessoas, momento que uma criança empolgada sobre no estribo e fica pulando, fazendo o seu papel de criança, logo grita para o pai “eu quero entrar”. Neste momento eu falo “entrar não pode, porque a chimbica esta engatada”. O pai me olha com ar de reprovação e diz “vamos procurar o dono filho, ele vai deixar”.Respondo “eu sou o dono!” e o pai me olha e diz: “você?”…

Eu sei que pra você são situações que podem parecer nada, mas isso é o racismo velado, é não entender que o negro pode estudar, pode ser destaque profissional, pode conquistar. Negro e dinheiro não são palavras rivais, mas o mundo nos ensina isso por atitudes que vão passando de pai pra filho e muitas vezes não são notadas.

Que o dia de hoje seja uma reflexão, não só pela minha raça, mas pelos pobres, mulheres, pelos obesos e tantos outros são segregados diariamente de forma velada. Espero ter somado algo ao seu dia. Forte Abraço deste NEGÃO aqui com muito orgulho.