O Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior – Departamento de Ciência da Religião da PUC-SP – é já nosso conhecido no blog. É o teólogo que mais acuradamente acompanha os passos da Igreja e em particular do Papa Francisco. Aqui vai um balanço do que foram os 6 anos de seu pontificado. É espantoso o seu trabalho apesar da idade e das limitações de sua saúde (possui apenas um pulmão). Altmeyer consulta muitas fontes mas a principal é: www.vatican.va).Lboff
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Em 19 de março de 2019 celebramos os seis anos do papa Francisco como bispo de Roma. Seu foco articulador continua sendo cuidar pessoalmente dos migrantes e refugiados, fazendo a sua voz profética ecoar em favor das periferias do planeta. Palavras de ordem: misericórdia, missão, alegria, reforma franciscana, colegialidade e diálogo. A motivação primeira é a missão, o cuidado pastoral dos empobrecidos e não mais o clericalismo doentio e narcisista. Diz ele que é a hora histórica da Igreja em saída, seguindo as intuições expressas pelo Concílio Vaticano II. Começa a delinear um novo rosto episcopal em todo o mundo. Bispos atentos aos pobres, atuando na pastoral, movidos pela compaixão.
Circunscrições católicas no mundo todo: 12 patriarcados, 641 arquidioceses, 2.125 dioceses, 44 prelazias territoriais, 11 abadias nullius, 42 exarcados dos ritos orientais, 36 ordinariatos militares, 88 vicariatos apostólicos, 39 prefeituras apostólicas, sete administrações apostólicas, oito missões independentes–sui iuris, três ordinariatos pessoais, uma administração de rito extraordinário latino e uma rede de 132.642 centros missionários e 221.740 paróquias.
Entidades filantrópicas e de ensino da Igreja Católica no planeta: 72.800 creches frequentadas por 7.300.000 crianças; 96.600 escolas de ensino fundamental para 35.100.000 alunos; 47.900 escolas de ensino médio para 20.000.000 alunos e 2.381.337 alunos do ensino superior; e 3.103.072 estudantes participantes das Universidades Católicas. Ainda 5.167 hospitais católicos, 15.699 casas para pessoas idosas, 10.124 orfanatos, 11.596 enfermarias, 14.744 consultórios de orientação familiar e 115.352 institutos beneficentes e assistenciais.
Número de fieis congregados pela Igreja Católica em seus diferentes ritos latinos e orientais: Em 2017 foram contados 1,313 bilhão de batizados, com a ação ministerial de 3.170.643 catequistas, 362.488 missionários leigos, são 54.229 os irmãos religiosos e 668.729 religiosas com votos perpétuos de vida consagrada. O clero católico é composto de 5.493 bispos (em 13/03/2019), 415.656 presbíteros sendo 281.514 diocesanos e 134.142 do clero religioso, 45.000 diáconos casados permanentes e há 116.843 seminaristas maiores.
Programa reformador: O Papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio assume uma postura evangélica transparente: “Exige-se a toda a Igreja uma conversão missionária: é preciso não se contentar com um anúncio puramente teórico e desligado dos problemas reais das pessoas (AL 201)”. Ele quer uma ação permanente de saída: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação (EG 27)”.
Inscrições no Martiriologium Romanum: Papa Francisco reconheceu publicamente 886 santos (até 13/03/2019) inscrevendo-os no cânon do Martyriologium Romanum e ainda 1.175 beatos (até 23/03/2019). O Papa João Paulo II havia incluído na lista canônica 482 santos e 1.341 beatos. O papa Bento XVI inscrevera no cânon: 45 santos e 371 beatos.
Francisco acaba de canonizar ao papa Paulo VI e o bispo mártir salvadorenho dom Oscar Romero em outubro de 2018. Certamente fará as canonizações dos mártires da América Latina, África e Ásia perseguidos nas cinco últimas décadas do século XX. Em 2019 está programada a canonização do bispo argentino dom Enrique Angel Angelleli, assassinado pela ditadura em 1977.
O Brasil espera as canonizações de irmã Dulce dos Pobres, dom Helder Pessoa Câmara, irmã Adelaide Molinari, operário Santo Dias da Silva, padre Josimo Moraes Tavares, irmão jesuíta Vicente Cañas, padre Ezequiel Ramin, irmã Creusa Carolina Rody Coelho, padre salesiano Rodolfo Lunkenbein e o índio Lorenzo Simão Bororo; dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, indígena Sepé Tiarajú, Dorcelina de Oliveira Folador; Eugenio Lyra Silva; Expedito Ribeiro de Souza; Franz de Castro Holwarth; frei Tito de Alencar Lima, dominicano; indígena pataxó Galdino Jesus dos Santos; Irmã Dorothy Mae Stang; indígena kaigang Marçal de Souza Tupã-i; a sindicalista Margarida Maria Alves; irma Maria Filomena Lopes Filha; padre Antonio Henrique Pereira Neto; padre francês Gabriel Felix Maire; o jesuíta João Bosco Penido Burnier; padre Leo Comissari; padre Manuel Campo Ruiz; leiga Roseli Correa da Silva; líder sindical Sebastião Rosa Paz; catequista Vilmar José de Castro, entre tantas testemunhas do Cristo Ressuscitado.
(fonte: http://www.causesanti.va/content/causadeisanti/it.html )
Vinte e duas viagens internas na Itália: Lampedusa em 08/07/2013; Cagliari em 22/09/2013; Assis em 04/10/2013; Campobasso e Isernia em 05/07/2014; Caserta em 26/07/2014; Cassiano all´Ionio em 21/06/2014, Redipuglia em 13/09/2014, Prato e Firenze em 10/11/2015, Turim, 21 e 22/06/2015, Pompeia e Nápoles em 21/03/2015, duas vezes em Assis em 04/08/2016 e 20/09/2016, Milão 25/3/2017, Carpi 02/04/2017, Genova 27/5/2017, Bozzolo e Barbiana 20/06/2017; Cesena e Bolonha 01/10/2017; Pietrelcina, diocese de Benevento, e San Giovanni Rotondo, diocese de Manfredonia-Vieste-San Giovanni Rotondo, para celebrar os 50 anos da morte de São Pío de Pietrelcina, em 17/03/2018; em 20/04/2018, região de Puglia, nas cidades de Alessano-Lecce, na diocese de Santa Maria de Leuca, e Molfetta, para celebrar os 25 anos da morte de Dom Tonino Bello; Nomaldelfia, na Toscana em 10/05/2018, para encontrar a comunidade fundada por padre Zeno Saltini; e em seguida Loppiano (Florença) na cidade internacional do Movimento dos Focolares; Bari, 07/07/2018; diocese de Piazza Armerina e Palermo para celebrar o 25° Aniversário de Morte do Beato Pino Puglisi, em 15/09/2018. Planejada visita a Loreto em 25 de março de 2019.
Viagens internacionais de Francisco: Completam-se 27 viagens internacionais que o conduziram a 36 países: Brasil (22 a 29/07/2013), Jerusalém (24 a 26/05/2014), Coreia do Sul (13 a 18/08/2014), Albânia (21/09/2014), França (Estrasburgo, Parlamento Europeu, em 25/11/2014), Turquia (28 a 30/11/2014), Sri Lanka e Filipinas (12 a 19/01/2015), Bósnia-Herzegovina (Sarajevo em 06/06/2015), Equador, Bolívia e Paraguai (05 a 13/07/2015), Cuba e Estados Unidos e sede da ONU (19 a 28/09/2015), Quênia, Uganda e República Centro Africana (25 a 30/11/2015), México (12 a 18/02/2016), Lesbos, na Grécia em 16/04/2016, Armênia em 24-26/06/2016, Polônia, durante a JMJ de 27 a 31/07/2016, Geórgia e Azerbaijão de 30/09 a 2/10/2016, Suécia de 31/10 a 01/11/2016, Egito, 28-29 abril de 2017, Fátima, em Portugal, 12-13 de maio de 2017, Colômbia, 06 a 11 de setembro de 2017; Bangladesh e Myanmar, 27 de novembro a dois de dezembro de 2017; Chile e Peru, 15 a 21/01/2018; Conselho Mundial de Igrejas em Genebra, em 21 de junho de 2018; Irlanda, ao Encontro Mundial das Famílias, 25 a 26 de agosto de 2018; Lituânia, Estônia e Letônia, 22 a 25/09/2018; Panamá de 23 a 28 de janeiro de 2019 para a XXXIV Jornada Mundial da Juventude; Emirados Árabes Unidos, 3 a 5 de fevereiro de 2018. Planejadas viagens ao Marrocos 30 e 31 de março de 2019; Bulgária e Macedônia, 5 a 7 de maio de 2019; Romênia 31/05 a 02/06/2019; Japão em novembro de 2019. Estão pendentes visitas para Madagascar, Coreia do Norte, Sudão do Sul, Argentina, Uruguai, Índia, Beijing (China) e Moscou (Rússia).
Discursos, homilias e textos importantes: O papa Francisco até 13/03/2019 pronunciou 1.196 discursos, 304 homilias. Escreveu duas exortações apostólicas pós-sinodais: Evangelium Gaudium (A Alegria do Evangelho) publicada em 24/11/2013 e Amoris Laetitia (A alegria do amor) em 08/04/2016. Publicou também a exortação apostólica Gaudete et Exultate, sobre a santidade em 19/03/2018. Enviou 35 constituições apostólicas, 192 cartas, uma bula, 32 cartas apostólicas, 258 mensagens, 34 motu próprios.
Acolheu milhares de peregrinos em 263 audiências gerais, presidiu 535 celebrações na Casa Santa Marta com as meditações cotidianas publicadas, doze bençãos Urbi et Orbi e rezou 322 Angelus, da janela do Vaticano. Proclamou e fez acontecer um Ano da Misericórdia em 2016. Escreveu duas encíclicas: Lumen Fidei, de 29/06/2013, e Laudato Si’, publicada em 18/06/2015. Presidiu três sínodos da Igreja universal e tem programado para outubro de 2019, o sínodo extraordinário da Pan-Amazônia, no Vaticano.
Ecumenismo e diálogo inter-religioso: Francisco realizou gestos de grande amor ecumênico junto aos irmãos luteranos, na celebração dos 500 anos da Reforma. Também junto aos ortodoxos russos e ao patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, chamado por ele carinhosamente de “meu irmão André”, recordando que ele exerce a função de Pedro, em Roma. Manteve encontros frequentes com o primaz da Igreja Anglicana, Justin Welby.
O papa Francisco propôs três chaves para avançar no caminho comum dos cristãos e aprofundar o ecumenismo: oração, testemunho e missão. Houve encontros fecundos com os irmãos menonitas, os pentecostais, os metodistas, os batistas, os reformados. Particularmente fecundo foi o encontro realizado no Vaticano com a atual moderadora do Comitê central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Agnes Abuom, e o secretário geral do mesmo organismo ecumênico, Rev. Olav Fykse, na manhã de 24/08/2017 em que fez uma oração comum pela unidade, pela paz e reconciliação das igrejas e dos povos.
As pontes junto aos judeus, islâmicos, hindus e budistas têm sido edificadas com esmero e sabedoria. Francisco sabe que não haverá paz mundial sem paz entre as religiões. Visita como peregrino ao CMI celebrou os 70 anos da entidade ecumênica mundial. Importante encontro inter-religioso em Abu Dhabi, com os irmãos muçulmanos em fevereiro de 2019.
Medidas internas na Cúria: Alterou inúmeros procedimentos ligados à questão da pedofilia; alterou funções de muitos dos serviços da Cúria Romana; limitou o número de títulos honoríficos na instituição católica; criou a comissão de controle do Instituto para as Obras de Religião (IOR); nomeou 59 novos cardeais eleitores; publicou quatro estatutos alterando o formato dos secretariados romanos.
Em função de sua firme decisão de reformar a Igreja tem sofrido pressão imensa dos quadros eclesiásticos da Cúria e de alguns episcopados que lhe oferecem resistência e em alguns casos até oposição, entre eles cardeais e alguns poucos bispos dos Estados Unidos da América, na Polônia, Espanha, um cardeal da China, bispos do Cazaquistão e a parcela dos bispos integristas em muitos países.
O gesto mais significativo se concentrou na política de tolerância zero com os presbíteros e religiosos acusados de pedofilia em todo o planeta, em especial, nos Estados Unidos, Europa e Austrália. Caso recente de acobertamento de pedófilos por bispos chilenos resultou no pedido de demissão coletivo de todo o episcopado na ativa (34 bispos). Vários foram aceitos e aposentados compulsoriamente. Neste ano anuncia-se que cardeais serão aposentados e exonerados dos cargos, como Pell, Ezzati e Barbarin.
Medidas futuras: Aconteceu em 21 a 24 fevereiro de 2019 o encontro inédito de todos os 114 presidentes das Conferencias Episcopais de todo o mundo, junto aos chefes dos dicastérios romanos, chefes das Igrejas de ritos Orientais, Secretária de Estado, alguns Superiores religiosos/as, no Vaticano, que tratou de medidas concretas e ágeis para combater a pedofilia e o acobertamento de crimes no clero católico como tolerância zero.
Em outubro de 2019 o Sínodo Extraordinário para a Amazônia, em Roma. Espera-se ainda uma encíclica social sobre o tema dos refugiados e imigrantes. A Reforma da estrutura burocrática da Cúria Romana desenhada pelo grupo de trabalho de cardeais. Provável aprovação das mulheres diaconisas e pequena revisão do código canônico para aprovar homens casados ao ministério presbiteral na igreja católica de rito latino, já presentes nos ritos orientais. Medida particular para regiões sem clero missionário e autóctone.
Papa Francisco e o novo rosto do Episcopado Brasileiro: Em 13/03/2019 dos atuais 480 bispos no Brasil, contamos 309 na ativa e 171 eméritos. Por indicação papal temos a seguinte composição: dois bispos nomeados pelo papa São João 23, ambos eméritos (D. Serafim Fernandes de Araújo e dom José Mauro Alarcón); 36 nomeados bispos durante o governo do santo papa Paulo VI (todos eméritos); 223 nomeados pelo santo papa João Paulo II (125 eméritos); 124 nomeados pelo papa Bento XVI (oito eméritos); e 95 bispos nomeados de 19/03/2013 até 13/03/2019 pelo papa Francisco (todos na ativa). Em 13/03/2019 há treze dioceses brasileiras vacantes.
Quatro bispos já completaram 75 anos e tornar-se-ão eméritos. Em 2019 ainda outros oito bispos se aposentam por idade. Somando as dioceses vacantes (13), os quase eméritos (4) e os que vão aposentar-se em 2019 (8), teremos a nomeação em breve de 25 novos bispos para o Brasil. O perfil em 2020 seria este: 120 bispos nomeados por Francisco sobre 309 bispos atuantes, ou seja, 39% do episcopado.
Já poderemos ver esse novo rosto na eleição em abril dos novos cargos na CNBB, especialmente presidente, vice e secretário geral. Um horizonte de esperanças está descortinando para uma Igreja que retome a opção pelos pobres e pela justiça social. Uma Igreja de bispos profetas.
Francisco e a composição do colégio de cardeais em 13/03/2019: Os atuais cardeais eleitores são 122 bispos católicos de 65 países. Os cardeais não eleitores são 101 com mais de oitenta anos. Há um total de 223 cardeais vivos provindos de 88 países. O cardeal norte-americano McCarrick foi excluído do Colégio de cardeais. Segundo a indicação dos diferentes papas quando da elevação ao cardinalato temos a atual composição no colégio de cardeais:
Beato Papa Paulo VI – não há mais nenhum cardeal vivo (o papa emérito Bento XVI foi criado cardeal pelo beato papa Paulo VI).
Papa São João Paulo II – 18 eleitores + 57 não eleitores = 75 cardeais vivos.
Papa emérito Bento XVI – 47 eleitores + 28 não eleitores = 75 cardeais vivos.
Papa Francisco – 57 eleitores + 16 não eleitores = 73 cardeais vivos.
Do total de 223 cardeais vivos temos 38 advindos de ordens religiosas e congregações (24 eleitores e 14 não eleitores). Há 14 cardeais bispos sendo seis eleitores, 174 cardeais presbíteros sendo 96 eleitores e, 35 cardeais diáconos sendo 20 eleitores. Total de 122 eleitores + 101 não eleitores = 223 cardeais vivos.
Cardeais eleitores da Europa são 52; das Américas são 34; da África são 16; da Ásia são 16; e da Oceania são 4.
Resumo:
18 cardeais eleitores criados por São João Paulo II;
47 eleitores criados por Bento XVI;
57 eleitores criados por Francisco.
Ainda nesse ano de 2019 completam 80 anos e se tornam não-eleitores, oito cardeais (que não mais participarão de conclaves para escolha do bispo de Roma). Portanto, até junho de 2019 poderíamos ter novo consistório com a nomeação de ao menos cinco novos purpurados (para atingir o total de 120 membros).
Resumo dos seis anos do Pontificado de Francisco: Os seis anos do pontificado de Francisco são a fonte de oxigênio para os cristãos, aberto aos demais crentes e mesmo uma ponte feliz de diálogo aos ateus que buscam a verdade e a justiça. Francisco não veio repetir fórmulas. Quer o novo, como pastor de esperanças e alegrias, especialmente fala aos jovens, migrantes e refugiados e tem um compromisso junto ao planeta Terra, nossa Casa Comum.