Economia

Pix automático e transferências inteligentes: o que 2024 reserva para os pagamentos digitais

Pix no celular (Crédito: Rafael Henrique/SOPA))
Pix no celular (Crédito: Rafael Henrique/SOPA))

Um conjunto de inovações destinadas a simplificar a rotina de pagamentos no Brasil está planejado para 2024. Algumas dessas novidades já foram lançadas em abril, enquanto outras, como o Pix automático, estão previstas para até o final do ano.

Esse recurso, visto como uma evolução do Pix avulso – que já é amplamente utilizado pela população para as mais diversas funções, como compras na Internet, pagamentos de prestação de serviços e apostas online – tem lançamento aguardado para 28 de outubro. No entanto, diversos fatores relacionados ao crescimento do Pix e ao desenvolvimento do novo produto levantam dúvidas sobre essa data, gerando a questão: será que 2024 será o ano dos pagamentos digitais mesmo sem o Pix automático?

O planejamento do Pix automático foi afetado por questões internas no Banco Central. Durante mais de dez meses, os servidores realizaram uma operação-padrão como forma de reivindicar, entre outros objetivos, ajustes salariais e a recomposição do quadro de funcionários. Essa mobilização, que também impactou a divulgação de indicadores econômicos importantes, como o Boletim Focus, terminou em abril. No entanto, o futuro do desenvolvimento do Pix automático permanece incerto, conforme admitiu o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

“Demos um passo importante na experiência do usuário com o início das transferências inteligentes em abril”, comentou Gustavo Lino, presidente da Init, a Associação dos Iniciadores de Transação de Pagamentos, entidade que representa empresas de serviços financeiros e de pagamentos. “Seria importante termos o Pix automático ainda em 2024 para dar um passo além, já que abre uma porta de uso muito similar ao cartão de crédito, mas atrelada a uma nova experiência através da iniciação de pagamentos”, completou.

Saldo parcial de 2024 é positivo para pagamentos digitais


Edifício-sede do Banco Central, em Brasília. Crédito: Raphael Ribeiro/BCB

Atualmente, segundo uma pesquisa recente da Febraban, a Federação Brasileira de Bancos, apenas 8% dos brasileiros não adotaram o Pix em seu dia a dia. O meio de pagamento ainda está em sua primeira versão, mas já conta com a aprovação de 95% da população e vem sendo usado pelos brasileiros em uma infinidade de transações, desde transferências entre pessoas físicas a compras online, e até mesmo para transações em marketplaces de games, como a Nuuvem, e depósitos via Pix em casas de apostas.

Muitas plataformas de e-commerce passaram a aceitar o Pix logo após o lançamento do serviço pelo Banco Central em 2020, bastando obter um código de pagamento ou um código QR para pagar por compras online. Já em plataformas como a Nuuvem, o serviço surgiu como uma alternativa aos cartões de crédito, facilitando o processo de pagamento ao possibilitar transações imediatas, o que levou à liberação de produtos digitais de forma ainda mais rápida. Por fim, nas apostas esportivas online, a introdução do Pix possibilitou usuários registrados a fazerem depósitos e saques instantâneos, bastando alguns cliques para que os apostadores tenham os fundos liberados em suas contas em  apenas alguns segundos.

Estes níveis de aprovação em relação ao Pix reforçam a visão que 2024 já é um ano positivo para o ecossistema de pagamentos digitais.

“Apesar do Pix automático ser muito esperado, esse já é o ano do Pix. O Banco Central já bateu mais de 200 milhões de transações no mesmo dia. O Pix já se transformou em um sucesso, principalmente com o processo de recebimento de contas de maneira imediata, desembolso em apostas online e como substituição ao cartão de débito”, avalia Thiago Zaninotti, diretor de tecnologia da Celcoin, infratech financeira.

Caso a nova versão do Pix seja adiada, Lino ainda mantém uma perspectiva positiva para 2024. Ele ressalta que a introdução de pagamentos recorrentes e transferências inteligentes reflete um amadurecimento institucional no open finance, o sistema financeiro aberto. Ambos os produtos são fruto de entregas mais robustas e discussões regulatórias mais claras realizadas até agora e que impactam vários setores digitais, como e-commerce, jogos de azar online e o mercado de investimentos.

“Nossa avaliação é que, através dessa agenda de pagamentos, as pessoas verão de forma mais clara o valor do open finance. Tanto o usuário pessoa física quanto jurídica. Mas as transferências inteligentes vão demandar muitas melhorias e o monitoramento é importante para isso. Não adianta a funcionalidade ser lançada se a experiência é ruim. Então, entendo que 2024 é o ano dos pagamentos e do monitoramento”, diz o executivo da Init.

As transferências inteligentes são operações automáticas e programáveis de envio de dinheiro, que não dependem da ação do usuário no momento da transferência. Para usuários pessoa física, a expectativa é que as transferências inteligentes sejam usadas, por exemplo, para evitar o uso do cheque especial. Por meio de um comando, o usuário pode criar regras para que, sempre que uma conta “entrar no vermelho”, recursos de outro banco sejam transferidos automaticamente, evitando o pagamento de juros. Para clientes pessoa jurídica, que gerenciam um grande número de contas, essa funcionalidade deve ser ainda mais relevante.

Implementação do Pix automático deve inovar ainda mais o mercado

O Pix automático permitirá o agendamento de pagamentos para serviços recorrentes, como contas de água e luz, mensalidades escolares, academias, serviços de streaming, clubes de assinaturas, sites de apostas esportivas, entre outros. Em essência, o novo serviço é bastante semelhante ao débito automático, mas promete ser mais fácil de usar e mais acessível.

“O Pix automático vai atender uma parcela importante da população que não é bancarizada ou que não tem cartão. Então, quanto mais rápido entrar em vigor, melhor para o usuário final”, complementa Lino.

Com o Pix automático, as empresas recebedoras, quando autorizadas pelos clientes, poderão debitar o valor do serviço com uma frequência definida, seja semanal ou mensalmente. O produto também permite estabelecer um limite para o valor da parcela a ser debitada e oferece a opção de cancelar a autorização da transação a qualquer momento.

“A futura implementação do Pix automático promete revolucionar ainda mais o mercado, pois não dependerá necessariamente de entidades como o Iniciador de Transação de Pagamentos (ITP)”, destaca Bruno Loiola, cofundador da Pluggy, empresa especializada em dados compartilhados e serviços de inteligência. “Isso proporcionará uma experiência de pagamento mais fluida e intuitiva, posicionando o Pix automático como um concorrente direto de métodos tradicionais como débito automático, boletos e cartões de crédito”, completou.

A incerteza em torno do projeto, naturalmente, afeta o planejamento das empresas de serviços financeiros.

“Acreditamos em uma grande virada do Pix tomando a frente de todos os outros meios de pagamento. Como empresa, também ficamos ansiosos para todos esses lançamentos, pois nos preparamos com alguns desenvolvimentos internos. Mas é importante que estas novidades cheguem para a população de forma correta, com todo arcabouço de tecnologia e segurança”, pontua Edisio Pereira Neto, fundador da Z.ro Bank, fintech que desenvolve serviços financeiros e processa mais de 50 mil operações de Pix por minuto.

Em comunicado, o Banco Central afirmou “estar trabalhando para reagendar a reunião do Fórum Pix – originalmente prevista para 14 de março – , que precisou ser cancelada por questões operacionais. Na ocasião, informaremos amplamente o mercado sobre o progresso dos trabalhos relacionados ao Pix Automático”.