Semana passada, participei do Arnold South América (evento criado pela lenda Arnold Schwarzenegger), meu primeiro campeonato internacional e principal objetivo desde que passei a competir. O prestígio de um dos palcos mais famosos do fisiculturismo mundial contrasta com a realidade nada glamorosa, embora apaixonante, da preparação.
Não é novidade que o esporte, pouco reconhecido e apoiado no Brasil, envolve gastos exorbitantes, dedicação em tempo integral, além de desgaste físico e emocional. O que ninguém imagina é o que acontece nas 24 horas que antecedem à disputa.
Você sabia que neste período não é possível tomar banho, passar perfume ou desodorante? Isso porque somos obrigados a pintar o corpo com uma tinta escura que ajuda a destacar a musculatura. A primeira mão é aplicada no dia anterior à apresentação e não pode, em hipótese alguma, entrar em contato com líquidos ou produtos químicos para não manchar.
A restrição de água se estende também ao consumo. A desidratação, somada à redução de sódio e à ingestão de carboidratos, é uma das estratégias utilizadas na véspera para “afinar” a pele, o que provoca, muitas vezes, câimbras fortíssimas e dificulta a execução das poses em cima do salto, mas não impede a realização de exercícios aeróbicos e de musculação caso o físico precise de algum ajuste final.
Aguentar as dores e a sede não é tão difícil quanto conter a adrenalina no backstage, onde os competidores se reúnem para o aquecimento, para o retoque da pintura e para os últimos preparativos antes do show. Sob orientação do meu coach, costumo comer torrada com mel (minha fonte de energia preferida) e aguardar concentrada meu nome ser chamado.
Independentemente da avaliação dos árbitros, considero uma vitória encarar 12 semanas de dieta restrita e treinos diários. Porém, estar no pódio entre as três melhores atletas da categoria bikini fitness, atrás apenas de uma russa e de uma equatoriana, superou minhas expectativas. Realizei um grande sonho e tive a certeza de que estou no caminho certo.