A atriz Carol Nakamura se envolveu em uma polêmica nesta semana. Através das redes sociais, a ex-bailarina do Faustão desabafou da decisão do filho adotivo, Wesley, 11 anos, de voltar para a casa da família biológica. Segundo a artista, a criança convivia com ela há três anos através de uma guarda provisória, enquanto aguardavam a finalização do processo de adoção.
No Instagram, Carol explicou a situação para os seguidores e lamentou a decisão do menino. “Uma criança que cresce sem regras é muito difícil, por mais que você mostre os benefícios da educação, é complicado e decepcionante. Vocês não têm ideia. Mas, ele tem 12 anos e nós respeitaremos a vontade dele”, disse. Em determinado momento, a atriz afirmou que a criança estava “sem vergonha”, o que em conjunto com a exposição do caso, lhe rendeu uma série de críticas na internet.
Em conversa com o iG, a presidente do Instituto de Direito Coletivo, Tatiana Bastos, destacou que o principal problema no caso de Carol Nakamura é a “adoção à brasileira” ou “apadrinhamento”, quando uma família adota uma criança por meios alternativos aos legais com o objetivo de proporcionar oportunidades que ela não teria em seu lugar de origem – o que é considerado crime no Brasil.
“É preciso destacar a importância da fila da adoção. Existe um sistema hoje no Brasil, gerido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que é o sistema de adoção nacional. Então, as crianças aptas a adoção são inseridas nesse sistema, bem como as pessoas que querem adotar. As vantagens dessa fila é a preparação dos pais e das crianças para o processo de diferentes formas. Respeitar esse sistema é a forma concreta de proteger essa criança porque esses pais pretendentes passaram por todo um processo avaliativo que o habilitou a estar nesse sistema”, destaca a especialista.
O respeito pela fila de adoção também foi destacado pela psicologa Renata Travain, especialista em processos de adoção. É preciso que os pais pretendentes e as crianças passem por todas as etapas de avaliações socioemocionais presentes em um processo de adoção. “Se isso não acontecer, a gente pode considerar esse caso uma adoção ilegal”, aponta. O processo de preparação de uma família para a adoção pode demorar de seis meses a um ano.
As condições sociais de uma família justificam a adoção?
Carol Nakamura e Guilherme Leonel conheceram Wallace enquanto faziam uma ação social no antigo maior lixão da América Latina, o do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Nos textos que postaram na última semana, os dois destacaram as oportunidades que ofereceram para o garoto nos últimos anos.
A advogada Tatiana Bastos destaca, no entanto, que “pobreza não é sinônimo de maus-tratos” e que essa “distribuição de crianças por falta de dinheiro” é um pensamento antigo que ainda assombra a sociedade. “Pobreza é um problema do Estado. O Estado que deve proteger, que deve intervir por essa criança”.
Segundo a especialista, o ato da adoção é um ato extremo, visto que o Estatuto da Criança e do Adolescente prioriza que o menor permaneça no seio familiar, se não for com os pais, com os avós, tios, entre outros.
“O que justifica a possibilidade de tirar a criança do seio familiar é a negligência. Ou seja, a criança não ter alimentação regular, não frequentar a escola, sofrer maus-tratos. Mas ainda assim, cabe ao Estado acompanhar a unidade familiar e decidir proteger essa criança com a tutela”, explica. Mas ainda de acordo com Tatiana, nesses casos é analisado se existem motivos o bastante para que os pais percam a guarda da criança.
É comum que uma criança adotada volte para a família biológica?
Após três anos com Carol Nakamura e Guilherme, Wesley decidiu voltar para casa. Carol disse que o menino fazia isso sempre que era repreendido por alguma questão cotidiana. Para a psicologa Renata Travain, no entanto, isso acontece justamente porque a adoção, neste caso, foi equivocada.
“Essa criança nunca deixou de ter contato com a família biológica. Não foi um caso de tutela por abuso, por exemplo. Ele não passou por todas as fases do processo de adoção, que são extremamente importantes para que a criança se sinta pertencente a uma família. Existem fases, como as entrevistas, análise de perfil, aproximação entre a criança e a família, sempre assistida por profissionais. Num processo tradicional, a criança vivência experiências que a levam para essa família adotiva. Então, também ficou muito confuso para a criança”. A psicóloga Renata, reafirmou a confiabilidade no processo: “Ele funciona para ser encontrada uma família para a criança e não uma criança para a família”, finaliza.
A advogada Tatiana, por sua vez, relembra que embora o processo de adoção no Brasil seja considerado extenso, ele é dessa forma porque é necessário. “É burocrático, mas é preciso que seja. Só assim podemos confiar que a criança não seja exposta a uma série de abusos ao cair em uma família que não esteja apta para os seus cuidados”, conclui.
Carol comenta repercussão do caso
Após a repercussão nas redes sociais, Carol Nakamura voltou ao Instagram para comentar o caso e pediu para não criticarem Wesley. A atriz e apresentadora agradeceu as mensagens de apoio, mas lamentou as críticas que tem recebido.
“Primeiro: não critiquem o Wallace em hipótese alguma! Independentemente de ele estar morando comigo ou não, ele continua sendo meu filho na minha cabeça, no meu coração”, pediu. Carol completou dizendo que 10% das mensagens que têm recebido são de ataques e julgamentos.
A atriz defendeu o processo de adoção e disse que é um ato de amor. Sobre as acusações de ter adotado Wesley só pelo fato de “ser rica” ela lamentou e afirmou que dói ler comentários nessa situação. “Ter que ler numa situação dessa, de tristeza profunda, que eu sou rica, que faço publipost, que para mim as coisas são fáceis… Por isso que eu conheci uma família e quis fazer alguma coisa. Diferente, provavelmente, da pessoa que escreveu isso. Quer ter opinião? Tudo certo, de boa, mas agora, neste momento, não façam mais isso! Depois, quando eu der uma recuperada, estiver de boa, sem problemas”, comentou.
Para a advogada Tatiana Bastos, a exposição de Wesley por parte de Carol Nakamura pode lhe causar problemas judiciais. “Havendo a demonstração desse dano é cabível uma responsabilidade civil para os dois [Guilherme e Carol]. O iG procurou Carol Nakamura, entretanto, não teve retorno até o final dessa matéria.