Quando se pensa em civilizações antigas na América Latina, é comum que Machu Picchu seja a primeira a vir à mente, construída durante o século 15, no entanto, as ruínas da antiga cidade sagrada de Caral, também situadas no Peru, guardam uma história muito mais antiga, datada de 2,6 mil anos antes de Cristo.
Redescoberta em meados dos anos 1990, pela arqueóloga e antropóloga Ruth Shady Solís, quando até então se acreditava que no continente americano não haviam civilizações tão antigas quanto as do Oriente Médio. Para se ter um exemplo, a idade de Caral equivale à da construção da pirâmide de Gizé, a mais antiga do Egito.
Localizada no Vale de Supre, em Barranca, a cerca de 190 km ao norte da capital Lima, há mais de 5 mil anos se estabelecia a que é hoje reconhecida como o centro urbano mais antigo da América. Em 2009, foi reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.
Durante as escavações nenhuma arma, corpos mutilados ou ameias (muralhas dentadas que protegiam fortalezas) foram encontradas pelo local. Os arqueólogos sugerem que Caral teria sido o lar de uma sociedade pacífica e envolvida em prazeres, como música e comércio – embora existam evidências de que poderiam ter organizado um exército com uma importante fabricação de armas. Porém é algo de que nunca será realmente comprovado.
Apesar de não haver conhecimentos de cerâmica ou maquinaria na época, a civilização de Caral conseguiu se desenvolver em outros aspectos, como o intercâmbio comercial, uma sociedade hierárquica, relações interculturais e manipulação de ecossistemas.
Acredita-se que o povo de Caral estava cerca de mil anos mais avançado do que outras culturas, como a Mesoamérica e mais de 2 mil anos em comparação a culturas como a dos Maia. Mesmo vivendo em um local isolado, tiveram certos avanços em construções como a de canais de irrigação e planejamento de calendários climáticos, por exemplo.
Entre 3 mil e 2,5 mil anos antes de Cristo, a população local começou a formar pequenos assentamentos que interagiam entre si e faziam o intercâmbio de produtos. Começaram a formar novos centros urbanos, onde hoje está a província de Barranca, haviam grandes praças e recintos públicos que eram usados como centros de cerimônia para a adoração de divindades, assim como a incineração de oferendas em forma de agradecimento.
Tendo escassez de água, foi pensado e construído todo um sistema hídrico, não apenas para irrigação, como para o uso doméstico que utilizava o vento como auxílio para levar a água para as regiões mais baixas. Pequenos mananciais era construídos para servir como reservas.
Com a economia baseada em pesca e agricultura, eram realizadas trocas com populações dos Andes e da Amazônia. O cuidado com a conservação dos alimentos era essencial para a sobrevivência, considerando a escassez de água, o manuseio dos ecossistemas e a identificação de mudanças climáticas, como o fenômeno natural conhecido como “El Niño”, fez de Caral a primeira cidade sustentável do mundo. Apesar de toda a estrutura, a cidade foi abandonada após um período de seca e fome, ficando pedida de 1800 a.C até o início dos anos 1900.
Visitando Caral
Apesar de toda a importância histórica, Caral não está entre os pontos turísticos mais populares do Peru, porém está entre os mais interessantes a se conhecer – não apenas o lugar, como a história com mais de 5 mil anos.
O local abre diariamente às 9 h e chegar até lá não será exatamente uma tarefa fácil, pois existe pouca infraestrutura para auxiliar turistas que viajam de forma independente – o mais comum e recomendado é que se use serviços de agências de turismo, fazendo reservas com antecedência.
É possível fazer passeios do tipo “bate e volta”, ou mesmo se hospedar por Supe (um dos cinco distritos que formam Barranca, onde está Caral), como as opções de hospedagens não são tantas, o mais comum é que os turistas prefiram ir e voltar no mesmo dia, levando cerca de 3 a 4 horas de viagem, partindo de Lima.
De Lima, o turista precisará pegar um ônibus até Barranca, algumas empresas de ônibus fazem esse trajeto, o problema é que cada uma sai da própria estação, ou seja, é preciso se programar bem para decidir de qual irá partir.
Ao chegar a Barranca é recomendado se informar de onde sai o coletivo para Caral, descendo em Supe (um pouco antes de Barranca) existem mais opções. Os coletivos funcionam como uma espécie de táxi e só parte quando todos os assentos estiverem ocupados, o valor da passagem custa, em média, US$ 3 por pessoa (cerca de R$ 17).
A volta de Caral para Barranca tem transporte limitado, compensa pedir que o táxi coletivo aguarde, ou mesmo negociar um preço pelo táxi inteiro. Ao chegar em Barranca, a volta até Lima será um pouco mais fácil, pois todos os ônibus saem da mesma estação e basta pegar o primeiro que aparecer de volta para Lima.
Ao visitar o local, o turista não deve esquecer de levar água, protetor solar e um chapéu. Também é recomendável se levar um lanche, existem lojinhas na região, mas o passeio pode ser bem cansativo devido ao calor.
O passeio por Caral dura em torno de uma hora e, apesar de poder ser feito sozinho, é mais proveitoso se for contratado um guia, que poderá contar toda a história por trás das ruínas da cidade mais antiga do continente americano – lembrando que os guias normalmente falam apenas em espanhol.
O que ver por lá
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Pirâmide Maior
Um complexo arquitetônico composto pela praça circular e uma pirâmide com plataformas escalonadas. É o edifício público que mais impressiona, foi usado como centro político e religioso.
Pirâmide menor
O menor da cidade, como o nome já indica, também eram realizadas atividades administrativas e cerimoniais.
Pirâmide da Pedreira
Para ser construída foi colocada acolchoamento para nivelar o sono, era basicamente utilizada para cerimonias e também para fins administrativos.
Pirâmide de Galeia
Em terceiro lugar, no quesito tamanho, perdendo para a grande Sinagoga e para a Pirâmide Maior. As características da Galeia indicam um uso para atividades cerimoniais e sociopolíticas associadas ao alto status dos funcionários que trabalhavam por lá.
Complexo residencial
Um conjunto habitacional localizado ao sul da parte superior da cidade, as casas estão dispostas em pequenos conjuntos com fachadas voltadas para a praça central, o que se acredita é que eram o lar de oficiais de baixa patente.
Praça Central
Como o nome indica, fica no centro das pirâmides e das residências de Caral. Há indícios de que foram instaladas lojas para a troca dos produtos. Ao longo do tempo teve diferentes funções.
Altar de fogo
Local que tinha uso restrito, ficava no interior do Anfiteatro, acredita-se que eram realizados rituais – provavelmente a queima de oferendas.
Geoglifo
Aparenta ser uma cabeceira voltada ao leste, construído por meio de planejamento, usado para observações astronômicas, a fim de previsões do tempo e de fenômenos naturais.
Onde se hospedar em Caral e Barranca
- Empedrada Lodge: com nota 8,5 e com destaque para a a vista panorâmica dos quartos e para o restaurante.
- La Posada de Santa Maria: com nota 8,5, com piscina ao ar livre.
- Hotel Villa Kitzia Huacho: também avaliado em 8,5, com academia e empréstimo de bicicletas para os hospedes.
Caso tenha tempo e condição financeira, pode-se hospedar em Barranca (também compensa caso queira conhecer outros lugares, antes de voltar para Lima). Alguns exemplos de hospedagem são:
- Hospedaje Lucía: que conta com pontuação de 8,8 (nota referente a avaliações feitas por casais que se hospedaram no local), para quem quer conforto sem gastar tanto.
- Hostal Will’s: com média de 7,6, sendo o com a melhor localização.
- Hotel Chavín: um três estrelas com média 8,4, sendo o mais luxuoso entre as três opções.
Todas as opções oferecem Wi-Fi e estacionamento gratuito.