Janaína Marcantonio Tavares, 42 anos, jornalista e fotógrafa em Marília, transformou a experiência da família em um registro de imagens para acompanhar a desocupação dos 44 blocos do conjunto Paulo Lúcio Nogueira, o CDHU.
Descobriu desigualdades, dramas pessoais e desafios de moradores em diferentes idades, condições sociais e estruturas de vida. Começou a reproduzir parte do trabalho em uma conta do Instagram – aqui -.
Janaina trabalha com ensaios e produção de fotos na cidade e região. Nascida em São Paulo, mudou para Marília aos 12 anos. Tem parentes e amigos entre os moradores do CDHU.
O apartamento de uma tia foi incendiado no processo de desocupação, já enquanto ela produzia o acervo, e o trabalho tornou-se ainda mais marcante.
“Marcou muito a desigualdade lá dentro. Tem apartamento com porta de cerejeira maciça, acabamento em gesso, e tem aquelas portas que parecem papelão. Apartamentos todo pichados, banheiro em condição que eu pensava: como a pessoa vivia¿ Blocos sem escada, como a pessoa conseguia subir¿”, conta.
Encontrou famílias bem estruturadas, mas também situações de crianças sozinhas. Muitas unidades com trabalhadores, aposentados e famílias que destoam da imagem comum do prédio vinculada a situações de violência e abandono. Mas viu também situações de ocupação, de abandono, de deterioração.
“Sei que existe essa desigualdade, não vai deixar de existir, mas ver tão de perto foi difícil. O apartamento que queimou era da minha tia. Recebi a informação na hora em que estava queimando, no feriado.”
Só conseguiu ir ao prédio no dia seguinte. “Ainda estava quente o apartamento, com fumaça, fios todos espalhados que eu não sabia se estavam com energia, foi bem chocante a imagem.”
Disponibiliza imagens para os moradores, conseguiu apoio para todos os blocos. Em alguns apartamentos não foi autoriza a entrar, em outros, com sinal de ocupação ou abandono, preferiu nem tentar.
Guardou em especial uma preocupação de uma moradora de 73 anos. “Ela me disse: ‘o que eu vou fazer recomeçar tudo¿ O que eu faço com R$ 600?’ Encontrou preconceito contra os moradores, encontrou dificuldades, tanto por algumas imobiliárias quanto pelo valor baixo que oferecem pelo aluguel social. O que uma pessoa faz pra morar com R$ 600?”
Janaína concluiu o curso de jornalismo em 2009, mas só em 2017 conseguiu comprar sua primeira câmera profissional. Não parou mais. Registra eventos, shows, o mundo como vê e locais que frequenta em Marília e toda região. O trabalho está na conta profissional específica – aqui -.