O primeiro cronograma do Ministério da Saúde, anunciado oficialmente em fevereiro deste ano pelo então titular da pasta, Eduardo Pazuello, previa o recebimento de 171,5 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 até junho. No entanto, 60% (103,5 milhões) já foram de fato entregues, apontam dados oficiais tabulados pelo GLOBO.
Um dos principais problemas que levaram à frustração das entregas previstas foi a dependência de matéria-prima remetida do exterior para fabricação da CoronaVac, desenvolvida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e da vacina da AstraZeneca com a Fiocruz. A vacinação brasileira está sustentada até agora nos dois imunizantes, já que doses da Pfizer chegaram ainda em pouca quantidade.
O plano inicial divulgado pelo governo era receber 69,1 milhões de doses do produto da AstraZeneca de janeiro a maio, das quais 52,7 milhões foram entregues. No caso da CoronaVac, o recebimento foi de 47,2 milhões de doses entre 58 milhões anunciadas.
Passados quase cinco meses do início da vacinação no país, as fabricantes das duas vacinas no Brasil ainda enfrentam dificuldades em razão de desabastecimento de matéria-prima, diminuindo suas previsões de entregas, inclusive para este mês de junho, com redução de 3,9 milhões de doses no último cronograma divulgado, em 2 de maio, em relação ao da semana anterior.
Nem mesmo o acordo recém-assinado com meses de atraso pela Fiocruz com a AstraZeneca para a transferência de tecnologia garantirá doses no curto prazo. A previsão é de entrega dos primeiros lotes da vacina 100% nacional somente em outubro, caso não haja intercorrências.
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Para o presidente da Associação Médica Brasileira, César Fernandes, os dados mostram uma política de aquisição de vacinas falha até aqui no país. E demonstra preocupação sobre o cumprimento das entregas planejadas para os próximos meses, com o governo projetando um total de 662 milhões de doses em 2021.
“Não quero acenar com pessimismo, mas é preciso responsabilidade para não termos mais frustrações. Temos um programa de imunização muito competente, com postos de vacinação instalados e capacidade para atender 2 milhões de pessoas por dia. Não aconteceu porque não teve vacina em quantidade maior”, diz Fernandes.
Outro ponto que explica os cronogramas frustrados do governo é a previsão de imunizantes que não tinham sequer registro na Anvisa, como a vacina russa Sputnik V (10 milhões de doses previstas entre março e maio) e a indiana Covaxin (20 milhões entre março e maio). A agência só aprovou na última sexta-feira uma importação excepcional dos dois produtos, e com ressalvas.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou ao GLOBO que “mantém constante diálogo com os laboratórios produtores de vacina Covid-19” e faz atualizações na planilha “quando recebe confirmação do laboratório seja sobre o atraso ou antecipação de entregas, o cronograma é ajustado para divulgação sempre às quartas-feiras”.
“A projeção de entregas de vacinas é atualizada toda semana pela pasta, e nela constam algumas variáveis, como não recebimento dos insumos; questões logísticas e operacionais dos laboratórios; atraso nas entregas das doses prontas e aprovação da Anvisa”, informa o ministério.