Veículos

Descontos vão durar pouco, então vale comprar carro para lucrar?

Divulgação Renault Kwid Zen é um dos dois automóveis mais baratos do Brasil
Divulgação Renault Kwid Zen é um dos dois automóveis mais baratos do Brasil


Com os descontos estabelecidos pelo Governo Federal por meio da Medida Provisória 1.175/23 , os carros de entrada do mercado nacional, o Renault Kwid e o Fiat Mobi, passaram a ser vendidos por R$ 58.990, cerca de R$ 10 mil reais a menos do que antes. Mas será que vale a pena comprar esses ou outros modelos que estão com descontos para revender depois?

Conversamos com Paulo Roberto Garbossa, diretor da ADK, e Cassio Pagliarini, sócio da Bright Consulting, duas empresas de consultoria no mercado automotivo, e também com Antonio Sanches, Analista da Rico Investimentos, para entender melhor as medidas e se compensa comprar um carro pensando em lucrar .

“Não. Os descontos variam de 2 a 8 mil, e algumas montadoras deram entre 2 a 5 mil de desconto a mais. A Jeep, deu desconto de 10 mil reais pra poder entrar no plano e depois deu mais dois . Então, existe a possibilidade dos preços se adequarem em um novo patamar. É muito arriscado comprar um carro hoje por 60 mil e vender amanhã por 68, pois os que continuarão sendo vendidos podem ter promoção dos fabricantes. É como se fosse uma bolsa de valores”, afirma Garbossa.

Antonio Sanches, Analista da Rico Investimentos, não recomenda a operação, principalmente se o investidor for inexperiente na área. “Essa é uma operação bem arriscada, que tem muitas chances de dar errado, principalmente se falando de pessoa física, e não de um profissional da área que tenha uma revenda. Um dos riscos é que não há certeza se o preço irá se estabilizar. Existem outros motivos que impactam na alta dos preços dos carros desde o início da pandemia, como por exemplo o descasamento entre produção e demanda por conta da falta de semicondutores”, alerta o analista.

O texto da Medida Provisória prevê 500 milhões de reais em incentivos exclusivos para veículos leves . Apesar de ser um valor expressivo, é menor do que a fatia destinada para caminhões (R$ 700 mi).

Para Cassio Pagliarini, também não compensa comprar um carro agora pensando em revenda com lucro, mas o consultor espera uma ampliação do programa:

“Não acho que vale a pena. Acredito que vai haver um clamor popular e irão reeditar essa medida. Especialmente se der resultado. Os 500 milhões oferecidos, em média, contemplam 100 mil veículos abaixo de R$ 120 mil, e que normalmente são vendidos em 40 ou 45 dias, então esses [novos] valores devem terminar muito rápido”, declarou o consultor.

Geralmente, carros não são vistos como investimentos, salvo unidades muito raras, que se tornam valiosas por conta das tiragens limitadas. Hoje em dia, modelos que eram considerados simples nos anos 80 ou 90, se bem conservados, são oferecidos a valores elevados , mas não dá para contar com isso.

“Um carro geralmente não é visto como investimento, principalmente quando não há clareza de que vai conseguir ser vendido mais caro. Os automóveis não têm um valor intrínseco como uma casa, que se não gerar lucro em venda, ou renda com aluguel, você mora na residência. No caso do carro, se você utiliza ele, ele acaba desvalorizando ainda mais”, explica Antonio Sanches, da Rico.

A ideia inicial da Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores) era que a medida durasse um ano, mas, de acordo com os especialistas, não devem durar muito tempo. Até as próprias montadoras anunciam em seus sites que as ofertas são até o final do mês .

“Se você comprar o carro hoje pra investir você tem que ter o dinheiro a vista, se entrar em financiamento você perderia o desconto por conta dos juros do financiamento, que ainda estão altos. Quem tem o dinheiro a vista é melhor investir em outras formas”, explica Garbossa.

Mas quais seriam essas outras formas de investimento?

“Falando de investimento, vamos utilizar algo de curto prazo. Nesse caso, o mais indicado é optar por investimentos de baixa volatilidade , pois você tem mais chances de resgatar mais dinheiro do que aplicou, mas esse tipo de investimento é bem restrito à renda fixa pós-fixada”, explica o executivo.

“Nesse caso, para investir e resgatar mais dinheiro daqui três meses, o ideal seria um como tesouro selic, CDB de um bom banco, um LCI/LCA, se atrelados à Taxa Selic pós-fixados, seriam indicados. Lembrando que pode ser interessante um investimento com liquidez, para poder resgatar a qualquer momento, ou uma opção com prazo de vencimento que termine em três ou quatro meses. Considerando que a Taxa Selic hoje está em torno de 13,75% ao ano, o que daria 1,08% ao mês, o investidor teria aí próximo a 1% de rentabilidade por mês desse dinheiro investido. Se estamos falando de 60 mil reais de investimento, seria cerca de 600 reais em um mês, em uma conta rápida”, afirma Sanches.

De acordo com profissional, há outras formas de investimento que garantem mais retorno financeiro, mas além de mais risco, demandam também mais tempo de aplicação: “Pensando em rentabilidade maior, o ideal seria rendimentos de maior volatilidade, mas nesse caso você precisa de um prazo maior, para que tenha probabilidade de resgatar esse valor em momento de alta, no caso uma janela de 3 a 5 anos, e aí sim, a rentabilidade seria consideravelmente maior”, completa o analista.

Fonte: Carros