A Ford F-150 está destinada ao Brasil faz alguns anos, período no qual a RAM expandiu sua linha aqui e a Chevrolet anunciou a chegada da nova Silverado , utilitário que foi confirmado para o segundo semestre . Nos últimos 41 anos, a linha F de picapes representou os modelos mais vendidos do mercado norte-americano, mas deve responder por uma parcela pequena de consumidores no nosso país. De qualquer forma, o negócio não é conquistar milhões de consumidores brasileiros.
Suas raízes são muito antigas. A série F surgiu em 1948, enquanto a F-150 viria apenas em 1975 . No início, foi uma bela guinada em relação aos modelos anteriores, uma vez que eles ainda eram baseados em adaptações das cabines de carros de passeio. Tamanha mudança imprimiu um porte que a sucessora mantém até hoje.
Embora a geração atual seja novidade no Brasil, nós conhecemos bem a F-150, mas não ligamos o nome à pessoa, pois o modelo foi vendido aqui como F-1000 (e outras variações) por muitas décadas .
Na prática, a Ford tem picapes posicionadas em três dos principais segmentos. A Maverick faz o papel de intermediária, a Ranger é a média da gama, e a F-150, claro, é a grande. Ficaram de fora apenas as picapinhas.
Apresentada do lado de fora do prédio onde fica a sede da Ford, na Zona Sul de São Paulo, a impressão foi que a F-150 não caberia por nada dentro do edifício. Estou falando de uma picape cujo comprimento chega a 5,88 metros, muito mais do que os 5,35 metros da Ranger cabine dupla , cerca de meio metro extra.
A largura de 2,43 metros (com espelhos) é capaz de deixar o moço do estacionamento aqui do lado de casa coçando a cabeça. É capaz de falarem que eu terei que alugar duas vagas. A medida está a uma régua de distância do comprimento total de um Smart Fortwo – o último vendido no Brasil mede 2,69 m.
Por sua vez, a altura de 1,96 m a coloca na classe de jogadores da NBA. Já o entre-eixos de 3,69 m é um centímetro maior do que o comprimento total de um Renault Kwid .
As dimensões de transatlântico das antigas (talvez tenha algum exagero da minha parte neste trecho) não serão problema para o público ligado ao agro, aquele que costuma ter vaga de estacionamento medida em acres.
No entanto, as medidas limitam o uso nas grandes cidades, pois as vagas grandes correspondem a 5% dos espaços de estacionamento da capital paulista, segundo pesquisa da General Motors. De qualquer forma, esse não será um impedimento, uma vez que as suas rivais também são enormes.
De qualquer forma, reclamar do tamanho de uma picape grande equivale a criticar a posição baixa de dirigir de uma Ferrari.
Voltando ao posicionamento de mercado, a sua maior rival será a RAM 1500 Rebel, outro modelo que aposta no V8 a gasolina como propulsor – algo que também está na futura Silverado. Há duas versões disponíveis: Lariat e Platinum, ambas com poucas diferenças de itens.
Se a RAM 1500 Rebel usa o mesmo motor Hemi 5.7 dos esportivos Charger e Challenger , a F-150 aposta no propulsor Coyote 5.0 do Mustang , com direito ao câmbio automático de dez marchas. Vamos aos números: são 405 cv a 6.000 rpm e 56,7 kgfm a 4.250 rpm, potência e força que ficam próximas dos 400 cv e 56,7 kfgfm da rival . A Silverado também toma emprestado o motor V8 6.2 do Camaro , uma unidade que rende mimosos 426 cv. Pode chamá-las de muscle pick-ups. Já prevejo uma arrancada de ¼ de milha no futuro delas.
É o tipo de rendimento capaz de amenizar em parte o corpanzil da F-150. Segundo a marca, são necessários 7,1 segundos para arrancar da imobilidade e cruzar os 100 km/h, número que a deixa para trás dos 6,4 s gastos pela RAM, que conta com caixa automática de oito marchas . Curiosamente, a Ford é mais leve: são 2.470 kg na Lariat, bem menos do que os 2.610 kg da Rebel 1500. O peso menor foi obtido pelo uso de alumínio na estrutura, o que ajudou a cortar 200 kg.
Por mais que o consumo não seja prioridade na cabeça de quem compra uma F-150, a Ford divulga 6,3 km/l de gasolina na cidade e 8,6 km/l na estrada . No caso, o mais importante deve ser a autonomia. E isso a picape tem de sobra, pois o tanque leva 136 litros, bem mais do que os 98 l da Rebel. Se levarmos em consideração o consumo na estrada, dá para chegar a 1.170 kg sem abastecer.
Será que isso vai ser possível na prática? Se depender do meu estilo, não. A despeito do primeiro contato ter sido estático (o que pode ser chamado de impressões ao não dirigir), logo que entrei na cabine já fui ligando o motor. Após o aquecimento, foi a hora de dar aquela acelerada. A partida e subida de giros não engana que se trata do V8 Coyote, muda apenas a curva de rendimento , afinal, o lance das picapes é ter mais torque. Só parei porque estava atrapalhando as gravações dos colegas.
O atual Mustang Mach-1 vendido por aqui talvez não seja o melhor parâmetro de comparação, pois ele é preparado em relação ao GT original . São 483 cv a 7.250 rpm e 56,7 kgfm a 4.900 rpm, um regime de rotações por minuto bem mais elevado, enquanto o GT rende 466 cv a 7.000 giros e 56,7 kgfm a 4.600 rpm.
A capacidade de carga varia de acordo com a versão: 728 kg na Lariat e 681 kg na Platinum – sempre considerando carga e passageiros. Não é o suficiente para adotar o motor diesel, pois a legislação brasileira exige uma tonelada de capacidade, daí a opção de usar motores V8 a gasolina, algo que também acometeu as suas rivais.
Tais capacidades apanham feio até de picapes compactas. Para você ter um parâmetro de comparação, a Fiat Strada 1.3 leva 720 kg. Por sua vez, a Ford Ranger carrega 1.001 kg. Mas a irmã menor puxa um reboque de 750 kg sem freio, o que é pouco face os 3.515 kg da F-150 – com freio . Ela será usada para carregar implementos com cavalos de raça, trailers ou lanchas pequenas.
A caçamba tem 1.370 litros de volume. As medidas são ótimas: 1,70 metro de profundidade, 1,52 m de largura e 53 cm de profundidade. Além do acionamento elétrico, a tampa da caçamba tem uma escadinha integrada. Ela fica escamoteada e tem o complemento de uma barra retrátil . Não seria nada fácil subir na plataforma sem esses equipamentos. O revestimento protetor é de série.
Quanto ao uso fora de estrada, há tração 4X4. S ão quatro modos de funcionamento: 4X2 (força enviada apenas para o eixo traseiro), 4X4 High (para velocidades maiores), 4X4 automático (distribui a força de acordo com a necessidade, e 4X4 Low (a famosa reduzida) . Somado a isso, há oito modos de ajuste eletrônico automático para diferentes terrenos, situações que vão de neve, passam por rochas e chegam até a lama.
Equipamentos e versões
A Lariat será a opção mais barata, mas, a despeito disso, vem com a maior parte dos itens da Platinum, se diferenciando mais pelos detalhes escurecidos. Além de ter esses equipamentos extras, a segunda aposta no que os americanos mais gostam: cromados, muitos cromados.
Seriam necessários dois posts para incluir todos os equipamentos, então serei obrigado a condensar a lista. Quanto aos preços, eles serão divulgados em outro momento.
São de série ar-condicionado digital de duas zonas (com saídas de ar traseiras); banco do motorista com 10 regulagens elétricas (são oito no do carona) e ventilação e aquecimento para os primeiros, enquanto os traseiros contam apenas com a segunda função; memória de posições dos ajustes elétricos do volante e pedais; teto solar panorâmico; abertura e partida sem chave (há ainda os curiosos comandos numéricos na coluna B, uma característica dos Fords estrangeiros); carregador de celular por indução; câmeras 360 graus, para a dianteira, traseira e reboque; freio de mão eletrônico; painel de instrumentos de 12 polegadas; central multimídia Sync 4 de 12 polegadas; Android Auto e Apple CarPlay; som Bang & Olufsen de oito alto falantes; aplicativo para acionar funções a distância e outras informações; iluminação exterior; rodas aro 20 escurecidas e pneus 275/60 Hankook Dynapro AT2 (uso misto); acionamento da caçamba elétrico; entre outros.
A segurança é representada pelos esperados controles eletrônicos de estabilidade e de tração, que incluem um controle de estabilização do reboque ; oito airbags (dianteiros, joelhos, laterais frontais e do tipo cortina); controle automático em descidas e anticapotamento; alerta de colisão frontal e assistente autônomo de frenagem; monitoramento de ponto cego; controle de cruzeiro adaptativo; assistente de cruzamentos (impede ou minimiza colisões ao fazer uma conversão); auxílio de manobras evasivas (aumenta o torque no volante em direção ao desvio necessário, podendo também mudar o rumo sozinho); faróis de LED adaptativos; e sensor e alerta de permanência em faixa.
A Platinum traz a mais detalhes cromados no exterior, soleira e outras partes; estribo elétrico; som Bang & Olufsen de 18 alto falantes (há até nos encostos de cabeça dianteiros); rodas aro 20 cromadas ; e console que se transforma em uma superfície de apoio. Ufa, é o suficiente para deixar alguém rouco em um podcast sobre o lançamento
As opções de cores incluem preto, prata, vermelho, cinza, branco, cinza, e dois tons disponíveis apenas para a Platinum: cinza Glasgow e azul Mônaco.
Primeiro contato
Já falei sobre o porte, mas tem outros pontos do visual que merecem ser destacados. Os enormes faróis adaptativos são cercados por luzes de rodagem diurnas, um toque que combina com a enorme grade tridimensional, que é cinza na Lariat e cromada na Platinum . O perfil tem um recorte nas portas dianteiras, um recurso que permite ver melhor o que se passa no trânsito. A traseira ostenta grandes lanternas de LEDs, afinal, nada na F-150 é pequeno.
Ao entrar no interior, a impressão foi de que eu poderia ter sido recepcionado por um corretor de imóveis . O acesso é facilitado pelos estribos, que são fixos na Lariat e elétricos na Platinum. Os bancos elétricos dianteiros abraçam o corpo com carinho de colo materno.
De tão americana, a F-150 tem vários easter eggs (termo criado para simbolizar o ato de procurar um ovo de páscoa): uma bandeira americana estilizada na lateral do painel , algo visível apenas ao abrir as portas dianteiras. Consigo ver um americano colocar a mão sobre o peito na hora de embarcar.
A cabine é cercada por revestimentos de couro e imitações de madeira na mais cara, nada daquele ar simples das versões criadas para a labuta. Todas as dimensões são enormes, o console central é tão largo que poderia levar um terceiro passageiro frontal.
Falando nele, o console tem uma curiosidade: a alavanca de câmbio escamoteável . Ela pode ser recolhida, abrindo espaço para uma prateleira, superfície perfeita para um laptop. O painel e central multimídia têm ótima resolução.
É muito raro um cara de 1,84 metro poder falar que cabem três do mesmo tamanho atrás, exatamente o caso dos bancos traseiros da F-150. Por mais incrível que pareça, a minha cabeça ficou rente ao teto solar, algo que está longe de acontecer nos bancos frontais .
Mercado de nicho
A batalha contra a Silverado será a reedição de uma antiga briga. Foi nos anos 90 que a picape da General Motors enfrentou as F-1000 e F-250, irmã maior da F-150, e perdeu em vendas. Será que isso vai se repetir agora? Teremos que aguardar para vermos como elas se sairão e, claro, como será a briga com a RAM.
A marca do carneiro está para produzir uma picape média pequena no Brasil e, com isso, ganhar uma participação maior de mercado, além de estar cada vez mais forte na mente dos consumidores brasileiros. O que vai beneficiar também seus modelos maiores.
Quanto aos preços, podemos esperar algo entre R$ 450 mil e R$ 500 mil, podendo desviar algumas dezenas de milhares de reais para cima ou para baixo. Não seria absurdo em um mundo em que a Ford Ranger Limited chega a R$ 330 mil. Como parâmetro de comparação, a RAM 1500 Rebel sai por R$ 457 mil em São Paulo. Até nisso elas são grandes.
Fonte: IG CARROS