Saúde

Pérola Daud vence câncer, testemunha milagre e mobiliza público na internet

Pérola Daud vence câncer, testemunha milagre e mobiliza público na internet

O que você faria se no dia de um ultrassom para saber sexo do seu filho descobrisse também um caso raro de câncer, com riscos que até levariam ao fim da gravidez? A produtora de eventos Pérola Daud Porto de Freitas, 28, transformou o caso em mensagens públicas, que evoluíram para um diálogo cotidiano com pessoas de todo o país durante o tratamento. Em 69 publicações ela contou a descoberta do câncer, a perda do seu filho, Benjamin, seria o terceiro, e uma surpreendente cura. Ganhou carinho, amigos, fãs e seguidores.

O processo todo durou menos de quatro meses. Começou em 22 de julho e terminou em 30 de outubro com exames mostrando o desaparecimento dos tumores. Entre estes 101 dias ela perdeu o bebê, teve de dobrar quimioterapia, sentiu dores, medos e tratou tudo de forma pública.

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A história evoluiu para o lançamento de um site e um roteiro de palestras em que Pérola, hoje aposentada em função da doença, faz também sua avaliação para tudo: ela considera sua cura um milagre, avalia que tudo que atravessou foi um plano divino e por causa desta fé conseguiu atravessar a descoberta, o tratamento e os piores momentos com relativa paz, traduzida em suas mensagens.

Pérola Daud, como é conhecida, nasceu em Ribeirão Preto e mudou para Marília aos três anos. Está em seu segundo casamento, com João Mauro Porto de Freitas. Tem dois filhos: Emanuel, 5, e Glória, 1. Pretendia ter quatro. Os médicos agora dizem que ela não deve mais engravidar.

O blog com sua história (http://www.peroladaud.com.br) teve quase 3.000 acessos no lançamento. Uma palestra sobre o caso lotou a Igreja Presbiteriana Independente, na rua 4 de abril. Ela empolgou, chorou muito e confessou ao final: são momentos intensos.

Além de sua história de cura e superação da doença e perda do filho, o Blog conta com a participação de uma psicóloga, que há anos atende Pérola, e terá ainda dicas de um treinador que vai orientar cuidados físicos da autora. E terá muito dela própria, que já recheou com conteúdo de seu caso, fotos dos filhos e da família. Você confere a história no site e vê agora um pouco mais de Pérola Daud:

GIROMARÍLIA – Quando você decidiu transformar seu problema em uma história pública e  por quê fazer desta forma?

PÉROLA DAUD –  Tudo começou por uma coincidência, vou explicar. Estava grávida do meu terceiro filho, queríamos quatro, portanto estávamos felizes demais por já ultrapassar a metade do caminho, foi então que marquei um ultrassom para o dia em que faria 14 semanas de gestação, pois com 13 semanas descobri o sexo dos meus outros dois filhos. Então com 14 com certeza eu saberia, o dia era de expectativa, então logo pela manhã postei no meu FB “ HOJE é o dia do ULTRASSONNNN!!!! Façam suas apostas!!! Kkkkk Menino ou Menina???? ‪#‎14semanas 

Pouco tempo antes do ultrassom eu recebi a noticia para comparecer ao consultório do meu medico pois os resultados de alguns exames não haviam sido nada bons. Fui fazer o Ultrassom já com o coração aos pedaços e descobri que dentro de mim estava o meu doce Benjamin. Por não ter respondido aos posts sobre o que era meu bebê, muitas pessoas me mandaram mensagens perguntando e algumas até ligaram pois sabiam da minha empolgação com o bebê e estavam esperando uma resposta no FB.

Foi o que bastou para iniciar uma serie de mensagens quase que diárias sobre os novos acontecimentos pois dezenas de pessoas nos ligavam, e para meus amigos também e perguntavam por mim, e em pouco tempo as dezenas de pessoas preocupadas conosco se tornaram centenas, e dessas centenas hoje são milhares.

GIROMARÍLIA – Todo o processo mostra mensagens muito intensas, mesmo agora com tudo encerrado. De que forma isso ainda mexe com você? O que foi mais difícil? O que é mais difícil tratar com o público hoje?

PD –  Mesmo passando por momentos atrozes eu tive paz, uma paz inexplicável, que me dava serenidade para descrever boa parte do que estava passando, mas sem angústia. As pessoas sentiam essa paz, e eu precisava das orações delas, pois acreditava que era isso que Deus queria, que as pessoas se manifestassem em amor, e Ele prontamente as ouvia. Creio que muitos dos mistérios de Deus não nos são revelados por que os queremos para beneficio próprio, quando esquecemos de nós mesmos e pedimos por outros sem interesse, algo se move no mundo espiritual, como se essa fosse a chave dos milagres. A minha relação com eles foi e é de amor, eu entregava a minha fé que os alimentava e eles me devolviam com palavras, orações e ações de amor. Nunca foi difícil para mim me relacionar com eles.

GIROMARÍLIA  – Além dos amigos, você recebeu muitas manifestações inesperadas, de muitos desconhecidos? Alguma que a tenha marcado mais?

PD – Sim, e sou categórica em dizer, isso latejou em mente e coração por muito tempo, foi um rapaz de Araçatuba que eu não conheço pessoalmente, ele me disse assim: -“Pérola, nós estamos sendo curados com a sua doença, não pare de escrever.” Isso me marcou profundamente e consegui ver um propósito em tudo que eu estava passando, afinal, o amar ao próximo não é fácil, amar não é fácil, e se eu estava beneficiando pessoas com o que eu estava passando, de certa forma estava valendo a pena.

GIROMARÍLIA – Você mostra em todo processo que encontrou na fé a força para atravessar o período. Você já vivia sua fé e religiosidade com esta intensidade antes da doença?

PD – Eu nasci e fui criada por uma mulher de fé. Seus ensinamentos estão gravados no meu coração e embora ela tenha partido quando eu ainda era uma garotinha de 15 anos, a semente que ela plantou germinou e virou uma árvore, em toda minha vida tive que aplicar os conhecimentos que tive desde cedo da palavra de Deus, passei por inúmeros problemas que em vez de me derrubar me fortaleceram. Eu digo que fui treinada a vida toda para passar por isso, ninguém que não tenha tido profundas experiências com Deus passaria por tudo que passei nesse período sem no mínimo enlouquecer, foram coisas fortíssimas.

GIROMARÍLIA – Você poderá engravidar novamente? Se puder, vai tentar?

PD – Os médicos dizem que não, na verdade meu primeiro prognóstico era de tomar uma medicação de alta toxidade durante 6 ou 7 meses, para enfraquecer os tumores e assim poder entrar em cirurgia para retira-los, como um dos tumores era bem grande e estava perto do útero, falaram em histerectomia total, por isso a dor maior ao interromper a gravidez.

Meu filho Emanuel é fruto do meu primeiro casamento com um amigo de infância, convivemos muito bem, mas enfim, o sonho do meu marido era ter um filho homem que o chamasse de pai, porque para o Emanuel, mesmo que Ele o ame muito, será sempre o tio. Mas os tumores desapareceram sem cirurgia, agora tudo mudou, mas não quero ser rebelde, vou seguir a orientação médica.

GIROMARÍLIA  – Você acredita que sua cura tenha sido um milagre?

PD  – Como eu disse acima, os tumores desapareceram, ninguém esperava por isso, para mim e para quem me acompanhou durante todo esse tempo, o milagre é um fato.

GIROMARÍLIA  – Como os seus filhos atravessaram todo este processo? O que mudou na sua relação com eles após a doença?

PD – Eu estava sempre bem, nunca deixei transparecer nada pra eles, mas eles sentiram muito a minha ausência por causa das internações e das viagens demoradas e muitas vezes de emergência.

GIROMARÍLIA  – Qual seria sua mensagem para uma mulher que descubra agora um problema como o seu?

PD – “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8:28) Procure saber qual o seu propósito em Deus.

GIROMARÍLIA  – Você teve acesso a tratamentos em São Paulo, teve um bom acompanhamento médico. Acha que teria superado o problema se dependesse do SUS ou atendimento público?

PD – Tenho um ótimo plano de saúde que me atende em qualquer lugar dentro e fora do país, mas mesmo com médicos particulares já passei por “maus-bocados”. Se eu posso dizer algo para quem descobre essa doença é, vá para capitais ou hospitais especializados, os médicos principalmente do interior onde não tem muitas intercorrência erram feio em diagnósticos, passei por tudo isso devido a um erro na minha primeira cirurgia, um médico renomado aqui de Marília abriu um tumor que tive 3 anos atrás e espalhou células cancerígenas por todo meu corpo, não era pra eu estar doente.

Descobri isso esse ano lá no AC Camargo, quando eles olharam os laudos de minha antiga cirurgia, na hora fiquei muito nervosa, mas depois com calma, preferi entregar a Deus, enfrentar o médico não iria trazer minha saúde de volta e pela raridade do meu caso provavelmente este médico não irá fazer isso de novo com ninguém, ele nem sabe, nem imagina o mal que me causou. Por isso, procure SEMPRE um especialista.

GIROMARÍLIA  – Você pretende transformar sua história em livro ou documentário?

PD  – Sim, ainda existem várias pessoas que não tem acesso a um computador e gostaria que essa história fosse disseminada e trouxesse esperança para doentes e sadios.

GIROMARÍLIA  – Depois do que atravessou, problemas cotidianos, comuns têm a mesma  importância? Você consegue lidar com isso para ajudar pessoas próximas com problemas pequenos?

PD  – Como eu disse, fui treinada a vida toda para passar por isso, perdi minha mãe aos 15 anos, problemas sempre foram o meu forte, me acostumei com eles, quando se tem uma vida nas mãos de Deus nada é demasiadamente importante, se viver vivo com Ele, se morrer com Ele estarei. Tudo fica fácil.

GIROMARÍLIA  – Você acha que sua história deve ser transformada em um exemplo de vida? Você busca ser um exemplo? Que sentimento você espera.

PD  – Os princípios bíblicos são meus exemplos de vida e fé. Não sou perfeita, muito pelo contrário, sou absolutamente comum e isso é o melhor, Deus não escolhe capacitados, capacita os escolhidos e embora pareça, isso não é um chavão, é real. Eu tento me parecer com Jesus em sua trajetória, Ele sofreu muitas dores e não reclamou, Ele venceu e nunca errou.  Eu também aceitei as minhas dores e Deus quis me abençoar com a vitória, mas eu erro sempre, então se for pra imitar alguém sugiro que imitem a Jesus, eu sou muito imperfeita, se existe algo de bom em mim, este algo é Ele.